Ao pesquisar pelo assunto zoologia no portal Brasiliana Iconográfica, chamam a atenção as gravuras de pássaros de Jean Théodore Descourtilz. Ele foi um dos naturalistas estrangeiros que passaram pelo Brasil no século XIX com o objetivo de conhecer e registrar a biodiversidade do país.
O ornitólogo francês chegou ao Brasil em 1830. Foi pesquisador do Museu de História Natural, no Rio de Janeiro, interessado por minerais e aves que observou durante as viagens que fez pela Floresta Atlântica do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Publicou três importantes obras sobre a avifauna brasileira: Oiseaux Brillants et Remarquables du Brésil (1834), considerado um dos álbuns ilustrados mais raros de história natural do país; Beija-flores do Brasil (1835); e Ornithologie Brésilienne ou Historie des Oiseaux du Brésil (1854), livro do qual fazem parte as imagens encontradas neste portal. Esta obra foi publicada, originalmente, em quatro fascículos, contendo 48 cromolitografias que reproduzem 164 espécies de pássaros brasileiros, sendo 15 delas, até então, desconhecidas.
Embora tenha revelado novas espécies de aves, não foi essa a grande contribuição de Descourtilz para o estudo da avifauna brasileira. Isso porque o francês chegou ao Brasil depois da passagem de naturalistas que muito contribuíram nesse sentido, como o príncipe Maximilian zu Wied-Neuwied, Johann Baptiste von Spix e Johann Natterer.
O grande mérito do ornitólogo está na descrição dos hábitos, cores e formas de cada espécie. Diferentemente dos outros estudiosos da época, que se dedicavam a fazer relatos morfológicos, Descourtilz colocou em seus desenhos informações que, aliadas a uma descrição detalhada, revelaram o comportamento e o habitat de muitas aves.
A gravura abaixo mostra, entre outras espécies, a Guaruba guarouba, também conhecida como Ararajuba, pássaro típico da região norte e hoje ameaçado de extinção.
De acordo com a descrição de Descourtilz que acompanha a gravura, “O guaruba, bem diferente pelas tintas vivas de sua plumagem, da espécie amarelo palha ou citrino que usurpou seu nome, é ave do Pará, rara e assaz desconfiada, dificilmente permitindo aproximação. Vive aos casais que não frequentam senão os campos mais quentes e, raramente, as matas das montanhas que os molduram. Passa boa parte do dia nas plantações de milho, vegetal a que os papagaios votam particular predileção e, pela manhã e à noite, refugiam-se nas massas de verdura que orlam os grandes cursos d’água (...)”.
A dedicação que tinha em detalhar o comportamento das espécies fez de Descourtilz o autor de um dos únicos registros sobre os hábitos do tietê-de-coroa. Trata-se de um dos pássaros mais raros do mundo, que está há pelo menos 20 anos sem ser visto.
A beleza e o realismo de suas gravuras, que inclui nos cenários plantas, frutos, insetos e rochas, é resultado da sofisticação da técnica da litografia, da possibilidade de imprimir em cor (cromolitografia) e ainda de retocar a imagem com pintura à mão.
No campo da mineralogia, o naturalista descobriu vestígios de ferro e ouro na região onde hoje se encontra o município de Conceição do Castelo, no Espírito Santo. Também explorou a cidade de Itapemirim e os territórios vizinhos, reunindo minerais e encaminhando-os ao Museu Nacional do Rio de Janeiro. Foi na cidade de Aracruz, no interior do estado capixaba, que Descourtilz morreu em 1855, envenenado pelo arsênico que usava para a taxidermia das aves.
As imagens de Descourtilz presentes neste portal integram a Coleção Brasiliana Itaú e podem ser vistas ao vivo na mostra permanente do Espaço Olavo Setubal, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo.