Fundada em 1546, Santos é uma das cidades mais antigas do Brasil e comemora seu aniversário no dia 26 de janeiro. Chamada de Enguaguaçú pelos índios guaianases que ocupavam a área antes da chegada dos colonizadores, a região deu origem à ocupação territorial que hoje compreende o estado de São Paulo.
A história da cidade se confunde com a de seu porto. Erguido no início do século XVI, o Porto de Santos foi construído depois que Brás Cubas – português que chegou ao Brasil junto com a expedição de Martim Afonso de Souza – decidiu transferir, por segurança, o ponto de comércio marítimo da Ilha de São Vicente para o interior do estuário. Desde então, a movimentação econômica gerada pelo porto provocou transformações sociais e urbanas na região.
Hoje principal porto brasileiro e o maior da América Latina, o local foi, durante o período colonial, importante ponto de escoamento da produção açucareira do interior do estado de São Paulo. Também era parada obrigatória para quem se destinava à capital paulista. Até o final do século XVIII, percorrer o trajeto entre Santos e São Paulo não era simples. O caminho pela Serra do Mar era tão tortuoso e íngreme que os jesuítas o apelidaram de muralha. Apenas em 1792 o percurso ganhou a Calçada do Lorena, primeira via de ligação entre as cidades. Com o crescimento da exportação do café no século XIX, o porto tornou-se mais importante e o escoamento do grão ficou mais ágil depois da construção da ferrovia São Paulo Railway.
Santos foi tema dos registros de alguns artistas viajantes que passaram pelo litoral paulista, como o britânico Charles Landseer, integrante da missão Stuart. No panorama abaixo, à esquerda, encontra-se um dos marcos da fundação da cidade, o Outeiro de Santa Catarina, erguido no século XVI em uma formação rochosa que ainda existe. Ao pé do Outeiro, vemos a Casa do Trem Bélico, edificação considerada a mais antiga de Santos e que mantém as características setecentistas portuguesas. Construída junto com o Outeiro, armazenava munições, armas e equipamentos para proteger a então Vila de Santos. Na extrema direita está o convento franciscano de Santo Antônio, hoje chamado de Santuário de Santo Antônio do Valongo, um dos principais exemplares de arquitetura franciscana no Brasil. Ao centro do panorama destaca-se o conjunto do Convento do Carmo. Ao fundo aparecem ainda o Mosteiro de São Bento e a Igreja de Monte Serrat, a mais antiga de todas as igrejas barrocas santistas sobreviventes. A cidade ainda preserva muito do seu patrimônio colonial e boa parte dos prédios históricos são abertos para visitação pública.
Um artista local
Um dos artistas da região que mais se destacou foi Benedito Calixto. Nascido em Itanhaém, Calixto não teve aprendizado formal em uma escola de arte. Com formação de artesão e atuando como decorador, foi para Paris em 1883 para estudar desenho e pintura em uma viagem financiada por membros da elite paulista, que reconheciam nele o potencial de revelar e enaltecer a história local.
Apaixonado pelo litoral paulista, fez várias marinhas da região, registrou cenas das praias ao redor de Santos e vistas do porto. Considerado, acima de tudo, um historiador, dedicou-se a estudos históricos do litoral e publicou, entre outros livros, A Vila de Itanhaém (1895) e Capitanias Paulistas (1924). Atuou ainda como cartógrafo, realizando ensaios de mapas de Santos, e chegou a ser guia de personalidades que visitaram o litoral, como Rui Barbosa e Euclides da Cunha. Calixto participou ativamente, como membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, da construção da história paulista, enaltecendo a figura do bandeirante e dos tropeiros, que, na visão da época, alargaram as fronteiras do país. O artista era muito próximo a Afonso Taunay e realizou vários registros sob encomenda para o Museu Paulista, do qual Taunay era diretor. Na pintura, recriou cenas históricas, como a Fundação de São Vicente e concebeu grandes panoramas para a Bolsa do Café (hoje Museu do Café) que comparam a cidade de Santos em 1822 e 1922. Calixto praticou também a pintura religiosa: a Igreja de Santa Cecília, no centro de São Paulo, ainda exibe seus painéis decorativos.