Embora tenha vivido apenas um ano e meio no Brasil, d. Amélia de Leuchtenberg, a segunda esposa de d. Pedro I, foi uma personagem importante no período que marcou o final do primeiro império. Há diversos registros iconográficos dela na Brasiliana Iconográfica, sendo uma das imagens mais significativas a que consta no livro de Jean Baptiste-Debret. Na litografia, está representada a cerimônia de seu casamento com o imperador, momento que simboliza o início de um novo capítulo da história do Brasil.
Depois da morte de d. Leopoldina, em 1826, d. Pedro precisava buscar apoio e reforçar seus laços com as monarquias europeias, para o que lhe foi recomendado procurar uma futura imperatriz entre a nobreza católica do velho continente. Não era uma tarefa fácil, já que d. Pedro tinha fama de infiel, além de pouca fortuna e filhos ainda pequenos. A escolhida foi Amélia Augusta Eugênia Napoleona de Leuchtenberg, princesa da Baviera, integrante, como era de se esperar, de uma família influente: seu pai, Eugênio de Beauharnais, era filho de Josefina de Beauharnais e enteado, portanto, de Napoleão Bonaparte. Sua mãe, Augusta da Baviera, casou-se com Eugênio como parte da negociação de paz entre Baviera e França em 1805. “A noiva [de d. Pedro] tinha que ser bonita, preferencialmente católica, proveniente de um reino liberal, pois os países absolutistas não viam com bons olhos o imperador constitucional do Brasil e, claro, membro de alguma família reinante”, explica a pesquisadora Claudia Thomé Witte, biógrafa de d. Amélia.
Antes de vir ao Brasil, d. Amélia teve aulas sobre o país com ninguém menos que o botânico Carl Friedrich Philipp von Martius que, acompanhado do zoólogo Johann Baptist von Spix, tinha viajado pelo Brasil entre 1817 e 1820, desenhando e coletando informações sobre a flora, a paisagem brasileira, e os povos indígenas.
A segunda imperatriz do Brasil desembarcou no Rio de Janeiro em outubro de 1829, com 17 anos, já casada com Pedro I por procuração. Veio acompanhada de seu irmão, Augusto de Beauharnais, que, por conta da negociação do casamento, ganhou o título de Duque de Santa Cruz, preenchendo um dos três únicos títulos ducais do império brasileiro.
Com a chegada de d. Amélia, d. Pedro pretendia resgatar sua popularidade bastante abalada. O Brasil estava quebrado financeiramente depois da guerra da Cisplatina contra a Argentina e, para os políticos locais, d. Pedro parecia estar mais interessado na sucessão do trono português do que com o governo brasileiro. Mesmo depois do casamento, a situação não melhorou: ao longo de 1830, a onda revolucionária que se espalhou pela Europa reverberou nos liberais brasileiros contrários à figura do imperador. Soma-se a esse fato o assassinato do jornalista Líbero Badaró, crítico do “autoritarismo negligente” de Pedro I, que vinha acompanhado de boatos de que estava sendo armado um golpe de Estado absolutista. Muitos conflitos entre manifestantes pró e contra o governo se espalharam pela capital brasileira forçando o imperador a abdicar em favor de seu único filho, o príncipe D. Pedro de Alcântara, com seis anos de idade. “Essa era a única maneira de sustar o processo, garantindo a continuidade da realeza no Brasil”, afirmam Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling em Brasil: uma biografia.
Apesar de ter convivido por pouco tempo com seus cinco enteados, d. Amélia teve uma relação muito estreita com os filhos do imperador. Na madrugada de 7 de abril de 1831, antes de partir com d. Pedro I de volta para a Europa, grávida e com 19 anos, ela deixou uma carta emocionada ao futuro imperador d. Pedro II na qual afirmava “(...) se eu fosse tua verdadeira mãe, se meu ventre te tivesse concebido, nenhuma força te arrancaria dos meus braços!”.
Na Europa, enquanto d. Pedro, agora Duque de Bragança, lutava contra seu irmão d. Miguel para garantir a coroa portuguesa para sua descendência, d. Amélia permaneceu em Paris, cuidando da filha recém-nascida, d. Maria Amélia, e da enteada d. Maria da Glória, por quem os dois exércitos se enfrentavam. Segundo Claudia Thomé Witte, “o apoio da ex-imperatriz foi importante para o sucesso de d. Pedro, uma vez que era ela quem procurava possíveis generais entre os antigos militares experientes que acompanharam seu pai, príncipe Eugênio, em diversas campanhas e, não menos importante, se correspondia com outras casas reinantes para conseguir apoio à causa do marido”. Depois de mais de um ano e meio de guerra, a família se reencontrou em Lisboa mas, em 1834, d. Pedro morreu em consequência da tuberculose.
A pedido do pai e com o objetivo de manter as alianças, d. Maria da Glória casou-se com o irmão de Amélia, d. Augusto de Leuchtenberg. Mas o casamento durou apenas dois meses porque o noivo morreu de forma inesperada. Quando a já rainha d. Maria II de Portugal se casou novamente, d. Amélia saiu da corte e passou a se dedicar à educação da filha, alterando sua residência entre a Baviera e Lisboa. Porém, aos 21 anos, d. Maria Amélia também foi vítima de tuberculose e faleceu.
Depois de perder marido, irmão e filha, a imperatriz dedicou o resto de sua vida à caridade. Entre seus feitos mais importantes está a construção do Hospital Princesa Dona Maria Amélia, que atendia tuberculosos carentes na Ilha da Madeira. O hospital continua até hoje atendendo a população da ilha e é mantido por uma fundação criada pela ex-imperatriz.
Pouco antes de morrer, em 1873, ela recebeu a visita do enteado d. Pedro II. Foi enterrada em Lisboa junto com a filha e o marido no Panteão de São Vicente de Fora. Em 1982, seu túmulo foi trazido para a Cripta Imperial, localizada no Parque da Independência, no Ipiranga, em São Paulo, local que também guarda os restos mortais do imperador Pedro I e de d. Leopoldina.