A região serrana do Rio de Janeiro, incluindo Petrópolis, começou a ser explorada a partir dos anos 1700, como parte de um caminho seguro para o escoamento do ouro retirado em Minas Gerais. Foi só em meados do século XIX, quando caiu no gosto da corte brasileira, que Petrópolis ganhou um projeto de urbanização e começou a ser povoada.
Até o início dos anos 1830, a região era composta por algumas fazendas extensas e isoladas, como a do padre Correia, localizada na confluência dos rios Morto e Piabanha, que oferecia hospedagem e alimentação aos tropeiros que por ali passavam. Simpático à região e preocupado com a saúde da filha d. Paula, sempre doente, o imperador d. Pedro I, que já tinha se hospedado nessa fazenda algumas vezes, tentou comprá-la, sem sucesso. Adquiriu então uma fazenda vizinha, a do Córrego Seco, no topo da Serra da Estrela, com o objetivo de construir ali um palácio de veraneio.
Com a partida de d. Pedro I para Portugal, em 1831, e seu falecimento três anos depois, a fazenda caiu nas mãos de credores. Em 1839, o governo brasileiro conseguiu recomprar a propriedade que, no ano seguinte, passou a pertencer ao novo imperador do Brasil, d. Pedro II. Os planos de construir um palácio em Petrópolis foram retomados e ficaram a cargo do mordomo da Casa Imperial, Paulo Barbosa, que sugeriu o nome da cidade, inspirado na russa São Petersburgo. Em 16 de março de 1843, d. Pedro II assinou o decreto da criação de Petrópolis. A região, pela presença de cascatas e pelo clima mais ameno que o da cidade do Rio de Janeiro, atraiu uma ocupação de chácaras e casas de recreio.
O major e engenheiro alemão Julius Friedrich Koeler foi o responsável pelo projeto do palácio (hoje Museu Imperial) e pelo plano de urbanização local. Dividiu a área entre a construção da mansão, suas dependências e jardins; uma igreja em homenagem a São Pedro de Alcântara (hoje a catedral de Petrópolis); um cemitério; além da área para a população, que ainda não existia. No projeto, Koeler priorizou a ocupação dos vales ao longo do rio Piabanha e seus afluentes, com as frentes das casas voltadas para o rio – para que ele não se tornasse esgoto. Também privilegiou a arborização de ruas e praças e a canalização de alguns cursos de água. Já neste projeto, pretendia-se evitar os deslizamentos das encostas, decorrentes das chuvas de verão, problemas - registrados desde aquela época.
Era preciso povoar a região. O governo estimulou a vinda de imigrantes, a maioria alemães, que formaram colônias agrícolas e atuaram na construção da primeira estrada entre o Rio de Janeiro e Petrópolis. Esses colonos chegaram ao Brasil com terra garantida pelo sistema de aforamento, ou seja, tinham que pagar uma taxa anual, a enfiteuse, e, se vendessem o terreno, teriam que ceder uma parte do pagamento à Casa Imperial, o laudêmio. Mais conhecido como “taxa do príncipe”, esse tributo ainda hoje é cobrado: quem vende imóveis na região que pertencia à Fazenda Córrego Seco deve pagar cerca de 2,5% do valor recebido para a Companhia Imobiliária de Petrópolis, pertencente à família Orleans e Bragança.
A segunda casa (ou a preferida)
Pago com recursos próprios do imperador, o Palácio Imperial de Petrópolis começou a ser construído em 1845. O projeto arquitetônico original de Koeler foi alterado depois de sua morte, em 1847, e liderado pelo italiano Cristóforo Bonini. O botânico e paisagista francês Jean-Baptiste Binot planejou os jardins imperiais. A decoração interna ficou a cargo de nomes importantes da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), como Manuel de Araújo Porto-Alegre, Joaquim Cândido Guillobel e José Maria Jacinto Rebelo.
Para garantir uma boa vizinhança, d. Pedro II doou lotes de terra para amigos e nobres. Diplomatas e políticos do império, como o Barão de Mauá, passaram a frequentar a cidade e construir seu próprios palacetes. Artistas brasileiros e viajantes também colocaram Petrópolis na rota. Foi o caso da inglesa Marguerite Tollemache, que fez uma série de registros da cidade quando passou por lá, e do alemão Karl Ernest Papf, que se mudou para Petrópolis em 1850, onde abriu o estúdio Photographia Papf e produziu encomendas para a família imperial.
Petrópolis se transformou num refúgio da aristocracia carioca. O surto de febre amarela que matou milhares de pessoas no Rio de Janeiro, entre 1849 e 1850, foi mais um dos motivos que levou a alta sociedade – e a família imperial – a subir a serra com mais frequência. Segundo a historiadora Lilia Schwarcz, em As Barbas do Imperador, Petrópolis se converteu “não só no abrigo seguro contra as epidemias que maltratavam o Rio de Janeiro durante o verão, como na grande vitrine da realeza e, claro, da corte”. Nessa época, surgiram hotéis, teatros, restaurantes, cervejarias, confeitarias, casas de banho e duchas. O Palácio de Cristal, construído a pedido da princesa Isabel, com uma estrutura de ferro importada da França, recebia exposições, bailes, festas.
Calcula-se que d. Pedro II tenha passado 40 verões em Petrópolis. Com o tempo, o imperador viajava a sua “cidade querida”, como ele a chamava, com mais frequência, não só no verão. Ao longo da década de 1880, ele quase não voltava mais para o Rio de Janeiro. Foi em Petrópolis, inclusive, que tomou conhecimento da Proclamação da República. Nessa época, outras cidades da região também começaram a crescer. É o caso de Teresópolis, que ganhou esse nome em homenagem à imperatriz Teresa Cristina.
Cidade Imperial na República
Depois do exílio da família real, do falecimento de d. Teresa Cristina, em 1889, e de d. Pedro II, em 1891, a princesa Isabel, única herdeira do palácio, alugou o prédio para o Educandário Notre Dame de Sion, entre 1893 e 1908. Entre 1909 e 1939, o Colégio São Vicente de Paulo funcionou no prédio. A transformação do espaço em Museu Imperial só veio com um decreto do governo Getúlio Vargas, em 1940.
Até a transferência da capital brasileira para Brasília, em 1960, Petrópolis ainda se manteve como pólo político da aristocracia. Entre 1894 e 1903, foi nomeada capital do Estado do Rio de Janeiro. Em 1903, o Palácio Rio Negro – construído para ser a residência do barão de mesmo nome – foi comprado pelo governo brasileiro e passou a ser a residência oficial de verão dos presidentes. Ainda assim, dois presidentes brasileiros tiveram casa de veraneio em Petrópolis: Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.
Há quem diga que Petrópolis foi a primeira cidade planejada do Brasil. Porém, o planejamento ficou restrito ao projeto inicial criado por Koeler. Hoje em dia, a região ainda sofre com os deslizamentos de terra que acontecem desde o século XIX. A frequência deles é agravada, principalmente, por contado crescimento desordenado da cidade e do desmatamento, que acelera os processos de erosão e os movimentos de massa. Segundo levantamento da Inter TV, entre 1988 e 2018, 411 pessoas morreram vítimas da chuva em Petrópolis.