Coube ao fotógrafo republicano francês Victor Frond (1821-1881) a autoria do primeiro livro de fotografias realizado na América Latina. Apesar do nome, O Brésil Pittoresque (Brazil Pittoresco), financiado pela monarquia, foi feito para passar uma imagem moderna do Brasil Império, a ser divulgada na Exposição Universal de Londres, em 1862.
Frond, que era tenente e bombeiro em Paris, foi deportado e mandado para a prisão na Argélia, em 1852, por ter se rebelado contra o golpe de estado dado por Luís Napoleão Bonaparte (1808-1873), Napoleão III, que derrubou a república e reinstalou o império na França no final de 1851. O republicano conseguiu fugir da prisão e foi para a Inglaterra, onde conheceu o jornalista Charles Ribeyrolles (1812-1860), que também havia sido expulso da França por sua militância republicana. Da Inglaterra, Frond foi para Lisboa, onde então se tornou fotógrafo, profissão pouco considerada na época, reservada aos que não tinham nenhuma outra opção.
Em 1856, Frond chegou ao Rio de Janeiro e logo caiu nas graças de dom Pedro II (1825-1891), com sua proposta oportuna de fazer retratos da família real. Associou-se ao litógrafo francês Sébastien Auguste Sisson (1824-1898), já estabelecido no Rio de Janeiro desde 1852, e com ele lançou os primeiros fascículos do álbum Galeria dos Brasileiros Ilustres – Os Contemporâneos. A gravura abaixo, da família real, é fruto dessa parceria, que durou pouco.
Em 1857, Victor Frond abriu seu estúdio de fotografia no Rio de Janeiro e, no ano seguinte, lançou-se em um projeto ousado, o de documentar todo o Brasil com suas fotografias. Para realizar o projeto, obteve apoio financeiro de dom Pedro II e de outros membros da sociedade imperial. Em julho de 1858, mandou vir da Inglaterra seu amigo Charles Ribeyrolles para escrever o texto do álbum. O jornalista não teve sorte e morreu de febre amarela, em Niterói, menos de dois anos depois de chegar ao Brasil.
Mesmo assim, o Brésil Pittoresque, publicado em 1861, foi muito importante na época, com suas 75 litografias, baseadas em fotografias, e não mais em desenhos, como era costume até então. As fotografias foram tiradas por Frond entre 1858 e 1860 e enviadas a Paris para que as litografias fossem feitas na Maison Lemercier. A nova técnica de impressão produziu imagens que enchiam os olhos com seus detalhes.
A gravura acima, do aqueduto do Rio de Janeiro, hoje conhecido como Arcos da Lapa, é uma das imagens do livro que, ao mesmo tempo que reproduz paisagens já retratadas por desenhistas e pintores viajantes, também inspirou novos artistas com seu realismo e enquadramentos diferentes.
O Brésil Pittoresque mostra retratos da família imperial, panoramas do Rio de Janeiro e Salvador, além de paisagens rurais, várias com imagens dos trabalhadores escravizados das fazendas de café e açúcar. Apesar de as fotografias serem posadas e retratarem os escravizados de maneira harmoniosa, distante da realidade deles, o Brésil Pittoresque inovou ao mostrar as atividades dos trabalhadores rurais.
Ribeyrolles, o autor do texto, deixou sua contribuição ao descrever as condições precárias dos escravizados, no pouco que pôde testemunhar do dia a dia deles nas fazendas de café no interior do Rio de Janeiro. As fotografias de Frond, que acabou voltando a viver na França em 1862, fizeram a fama do livro, que sobrevive até hoje.