Este ano, o Brasil está enfrentando uma das piores crises hídrica e energética de sua história. A falta de chuvas está provocando a seca dos rios e cachoeiras e o desmatamento nas margens dos rios só piora a situação.
No Parque Nacional do Iguaçu, as cataratas, patrimônio natural da humanidade pela Unesco, estão minguadas e irreconhecíveis. No rio Iguaçu, existem seis hidrelétricas de grande porte.
Na pintura acima, vemos a catarata do Iguaçu retratada no século XIX pelo pintor alemão Bernhard Wiegandt (1851-1918), que esteve no Brasil entre 1875 e 1880. Nesse tempo, em que ainda não havia eletricidade, a iluminação era a gás em casas ricas das cidades ou em lamparinas a óleo.
Não foram poucas as cascatas, cachoeiras ou cataratas que chamaram a atenção dos artistas viajantes que visitaram o Brasil no século XIX. A começar pela da Tijuca, no Rio de Janeiro, cidade que abrigava a Corte e por onde todos passavam.
"As cascatas da Tijuca constituem um dos panoramas mais pitorescos das cercanias do Rio de Janeiro (...) um riacho se precipita dos cimos mais elevados do Monte Tijuca e joga-se de uma parede rochosa de cento e cinquenta pés mais ou menos de altura. Outro riacho, que corre ao sul, forma também várias cascatas tão grandes e imponentes como as primeiras, mas bem inferiores quanto ao pitoresco e ao ambiente. O corte dos rochedos, o movimento da água espumante e borbulhante, são tão admiráveis quanto os das quedas d'água do velho continente" (In: RUGENDAS. Viagem Pitoresca Através do Brasil, Editora da Universidade de São Paulo, Livraria Martins, 1972), escreveu o pintor alemão Johann Moritz Rugendas em seu livro publicado na Alemanha e na França em 1835.
Encantado pela paisagem, em 1817, o pintor francês Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830) comprou um terreno e construiu uma casa próxima à cascatinha da Tijuca, onde viveu com sua família, que permaneceu ali mesmo depois do retorno do pintor à França.
A cascata da floresta da Tijuca foi motivo de encantamento de diversos artistas, como nos desenhos do inglês Charles Landseer (1799-1879), feitos em torno de 1825, quando veio ao Brasil com a missão diplomática inglesa que iria negociar a independência do país.
Um pouco antes, em 1821, a cachoeira foi retratada também pelo inglês Henry Chamberlain (1796-1844) e, em 1833, pelo brasileiro Manoel Araújo Porto Alegre (1806-1879).
Por volta de 1869, o italiano Nicolau Facchinetti (1824-1900) pintou a cascata dos Bulhões e a de Itamaraty, as duas em Petrópolis, na serra Fluminense. Da mesma região, é a cascata dos Correias, pintura que data por volta de 1870 e de autoria não identificada.
A cachoeira de Paulo Afonso, na Bahia, onde nos anos de 1950 foi instalado um complexo de usinas que respondem pela terceira maior geração de energia no país, também foi objeto de obras no século XIX, como a pintura do alemão Germano Wahnschaffe, feita a partir de uma fotografia do local encomendada por dom Pedro II.
O botânico alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868), que viajou pelo Brasil entre 1817 e 1821, também registrou sua impressão sobre a cachoeira no rio São Francisco. No livro Viagem pelo Brasil, assinado por ele e seu companheiro de viagem, o zoólogo Johann Baptiste von Spix, eles já antecipam a vontade do homem de "dominar" a natureza por interesses econômicos:
"Aí, o rio começa a romper caminho por uma cadeia de pedra calcária, entre a qual ele continua quase sempre apertado, impetuoso e profundo, cerca de umas 12 léguas. Forma diversas corredeiras e quedas, dentre as quais a mais considerável é a Cachoeira de Paulo Afonso. É certo que, nesse trecho através da montanha, alguns lugares são navegáveis, mas uma viagem sem interrupção só é possível da Aldeia de Canindé em diante (...) Dando-se crédito às informações verbais de diversas testemunhas oculares, aqueles obstáculos de navegação podem ser pelo menos em parte removidos, e há esperança de que mais alta cultura e mais animado tráfego proporcionam ao rico Brasil pleno gozo do majestoso rio." (In: SPIX e VON MARTIUS. Viagem pelo Brasil 1817-1820, Editora Itatiaia, 1981. v. II)