Depois do pau-brasil, da borracha, do algodão, da cana-de-açúcar e do ouro, o café se tornou o principal produto comercial do Brasil e foi fundamental no desenvolvimento da região sudeste do país. A primeira muda de café arábica chegou em Belém, em 1727, escondida na bagagem do Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta, que, a pedido do governador do Maranhão e Grão Pará, fez esse pequeno contrabando.
O pintor, engenheiro e militar José Joaquim Freire (1760-1847) desenhou uma árvore de café, entre os mais de 400 desenhos que fez durante a expedição pela Amazônia entre os anos 1783 e 1792.
Mas o clima e o solo do norte não foram favoráveis ao desenvolvimento das plantações de café nessa região e como o valor comercial do produto aumentava, o cultivo foi se espalhando rapidamente em direção ao sul. Até o início do século XIX, a produção do café era voltada para o mercado doméstico e se estendeu pela Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo.
Podemos ver imagens de plantação de café na fazenda Pombal, no sul da Bahia, onde hoje é o município de Nova Viçosa. Com as fazendas Riacho D'Ouro e Helvética, a Pombal integrava a Colônia Leopoldina, fundada por imigrantes suíços e alemães por volta de 1818.
Desenhada pelo artista suíço Jean-Frédéric Bosset de Luze (1754-1838), a aquarela acima detalha as construções e caminhos dentro da fazenda Pombal. A Colônia Leopoldina, que teve seu nome dado em homenagem à princesa e se situava às margens do rio Peruípe, foi uma das colônias criadas nesse período com a intenção de atrair imigrantes europeus para povoar terras desocupadas, desenvolver a agricultura e reforçar o contingente de milicianos brancos para defender o país, quando necessário. O tratado assinado por dom João VI, em 1818, para a criação da colônia Nova Friburgo, semelhante à Leopoldina, mostra a ênfase que se queria dar a uma “imigração civilizatória”, dando preferência a agricultores e artífices europeus e brancos.
Esse tipo de colônia agrícola tinha ajuda financeira e proteção do governo, mas deveria se manter nos moldes de uma agricultura familiar, sem trabalho escravo. No entanto, ao mesmo tempo que incentivava essas colônias, o governo passou a se interessar cada vez mais pelos lucros da exportação do café, e a estimular o seu cultivo. Foi assim que a mão de obra escrava passou a predominar também nas colônias, além de nas fazendas de café.
O Brasil começou a exportar café em 1810, em pequenas quantidades, mas em 1830, ele já passou a ser o principal produto de exportação, desbancando o açúcar. A partir de 1825, a cultura do café se tornou a principal atividade econômica no Vale do Rio Paraíba, entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Algumas obras da Brasiliana Iconográfica mostram plantações de regiões próximas ao Rio de Janeiro.
Essa gravura (acima) do botânico alemão Carl Friedrich Von Martius (1794-1868), que viajou pelo Brasil entre 1817 e 1820, mostra escravizados trabalhando no cultivo de café próximo à cidade de Magé. A obra abaixo, desenhada pela inglesa Margueritte Tollemache (1818-1896), representa uma plantação de café na Tijuca, em 1855.
E as duas obras abaixo, a pintura do artista francês Frédéric Salathé (1793-1860), e a gravura do suíço Johann Jacob Steinmann (1804- 1844), retratam uma mesma plantação de café na região serrana do Rio de Janeiro.
O artista alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858) registrou, na gravura (abaixo) publicada na França em 1835, trabalhadores escravizados colhendo café enquanto seus senhores descansam sob uma tenda.
E o fotógrafo Victor Frond mostra mulheres escravizadas moendo o café em um grande pilão numa fazenda.
Mas não foi só nas plantações e fazendas que a mão de obra escravizada foi fundamental para tornar o café o principal produto de exportação do Brasil. Também na capital do Império a população negra dominava o transporte do produto entre as casas, os armazéns e o porto.
Os carregadores de café chamavam a atenção dos viajantes como o pintor alemão Eduard Hildebrandt (1818-1869) e o desenhista brasileiro Joaquim Lopes de Cabral Teive (1816-1873). Repare que há sempre um personagem com uma bandeira à frente dos carregadores. Era ele que ditava o percurso e o ritmo do carregamento, muitas vezes puxando melodias que eram cantadas durante o trabalho.
"Para facilitar ainda mais a venda do café, tão comum no Rio de Janeiro, existem armazéns bem abastecidos onde os compradores podem escolher e tratar com os proprietários ou os comissários. Quanto ao transporte, penoso muitas vezes em virtude da extensão do trajeto, faz-se mister, para efetuá-lo sem inconvenientes, não somente um número de carregadores igual ao de sacos, mas ainda um capataz entusiasta, capaz de animar os homens com suas canções improvisadas", escreve Jean Baptiste Debret (1768-1848) na descrição da gravura abaixo (In: DEBRET, Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2016).
Na pintura abaixo, de Paul Harro-Harring (1798-1870), vemos um grupo de carregadores de café, na rua Direita no Rio de Janeiro, já sem os sacos nas costas, indo receber seu pagamento. Isso porque muitos desses trabalhadores eram escravos de ganho, que podiam circular livremente para encontrar trabalho, mas deviam dividir com seus donos o dinheiro que recebiam.
A exportação do café foi a grande responsável pelo desenvolvimento do Sudeste brasileiro e principalmente de São Paulo, que não era capital, mas cresceu tanto com o dinheiro do café, que se aburguesou e se tornou o principal centro financeiro do país. No final do século XIX, rodovias foram construídas para escoar café e as cidades cresceram também no interior com a intensificação da imigração, principalmente com o fim da escravidão, em 1888.