A busca por ouro e diamantes impulsionou a expansão e ocupação do território brasileiro, que até então se limitava quase só ao litoral, entre os anos 1700 e 1800. Depois de descobrirem ouro na região hoje conhecida como Minas Gerais, e se desentenderem com a coroa portuguesa quanto a exploração desse metal precioso, os bandeirantes paulistas partiram para o centro-oeste e descobriram jazidas também em Goiás e Mato Grosso.
Vila Boa, fundada em 1727, recebeu o status de vila em 1739 e se tornou a capital da capitania de Goiás, em 1749. O explorador paulista Bartolomeu Bueno da Silva (1672-1740), conhecido como Anhanguera, foi quem descobriu o ouro às margens do rio Vermelho e fundou ali um arraial, inicialmente conhecido como Sant'Anna, ainda subordinado à capitania de São Paulo. Construiu uma capela em torno da qual foi se organizando o povoado e, para comandar a população e a extração do ouro, o bandeirante nomeou membros de sua própria família para os cargos públicos.
A coroa decidiu então se aproximar da região para controlar o transporte do ouro e evitar contrabandos. Os paulistas eram considerados valentes, porém ignorantes e rudes. Em 1739, o governo português enviou o ouvidor e superintendente geral das Minas de Goiás Agostinho Pacheco Teles ao arraial de Sant'Anna para nomear oficiais que cuidariam de seus interesses e, ao bandeirante descobridor, restou a homenagem no nome da cidade, Vila Boa, e um cargo honorífico de capitão-mor.
Com a descoberta do ouro, senhores de engenho do nordeste e da região do Rio de Janeiro, vendo o preço do açúcar diminuir a cada dia, correram para a recém descoberta mina em Goiás e levaram com eles os seus escravizados, para que trabalhassem ali em um negócio mais lucrativo. A eles se juntaram exploradores de todas as partes do Brasil, além de portugueses e outros imigrantes em busca de riqueza.
A população originária, os indígenas, foi perseguida e deslocada para assentamentos próximos, criados para mantê-los sob controle e longe do ouro. Assim foram exterminados os povos Goyá, que deu nome à província, Crixá, Kayapó Meridional, Akroá, entre outros grupos, além de reduzir as populações dos Xacriabá e Avá-Canoeiro.
Acima, vemos Vila Boa de Goiás na gravura do austríaco Thomas Ender (1793-1875), a partir de desenho do médico, geólogo e botânico também austríaco Johann Baptist Emanuel Pohl (1782-1834). Os dois vieram juntos ao Brasil em 1817, Ender como pintor e Pohl como encarregado da área de mineralogia na chamada missão austríaca. Pohl desligou-se da expedição e viajou durante quatro anos pelo interior do Brasil. A gravura integra o Atlas zur Beschreibung dei Reise in Brasilien, de Pohl, editado em Viena, em 1832.
Pohl esteve em Vila Boa duas vezes entre 1819 e 1820. Na mesma época, o botânico e naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que viajou pelo interior do Brasil entre 1816 e 1822, observou: "unicamente a presença do ouro em sua terras determinou a fundação de Vila Boa, pois essa vila, localizada (...) numa região estéril e afastada de todos os rios atualmente navegáveis, dificilmente estabelece comunicação com outras partes do império brasileiro. Não tem nem mesmo muita salubridade, e não tardaria a ser abandonada se nela não ficasse localizada a residência de todo o corpo administrativo da província" (In SAINT-HILAIRE, Auguste de, Viagem à Província de Goiás, Editora Itatiaia, 1975).
De fato, Vila Boa teve um curto período de prosperidade. Por volta de 1750 o ouro já escasseava e os habitantes começaram a deixar a região. No início do século XIX, negros e pardos eram a maioria na população da capital da província de Goiás e muitos deles eram livres, pois com o dinheiro do ouro puderam comprar suas alforrias. Em 1804, a população branca era de apenas 13%, enquanto a de negros e pardos livres representava quase um terço dos habitantes da vila.
A gravura acima já retrata essa configuração de Vila Boa, com trabalhadores negros e um carro de boi. Com o esgotamento do ouro, a antiga capital se voltou para a agricultura e a agropecuária, exportando carne para São Paulo e o Rio de Janeiro.
"A mineração está em grande decadência, e a agricultura ainda na infância, todavia a cidade é abastada, porque de muitas léguas em roda concorrem ali os fazendeiros com diversos viveres, por ser o único lugar aonde os podem vender com lucro. O ouro e gado fazem objetos de exportação; além desses já se exporta algum algodão, tanto em natureza com em tecido: A importação consta de fazendas, secos, molhados, sal, aço, ferro e escravatura", escreveu o militar português Luiz D'Alincourt que também esteve em Vila Boa em 1818 (In. D’ALINCOURT, Luiz, Memória sobre a Viagem do Porto de Santos à Cidade de Cuiabá, Editora Itatiaia, 1975).
Em 1818, Vila Boa de Goiás passa a se chamar cidade de Goiás e torna-se conhecida como Goiás Velho. Somente na década de 30 do século XX, perde seu status de capital do Estado para Goiânia.