Maximiliano Alexandre Felipe (1782-1867), também conhecido por Príncipe Maximilian zu Wied-Neuwied, foi um dos primeiros naturalistas estrangeiros a aproveitar a abertura das fronteiras determinada por D. João VI (1767-1826), após a chegada da corte ao Brasil, em 1808. Filho de uma família nobre da região do Reno, atual Alemanha, o príncipe Maximilian serviu o exército, lutou guerras e estudou história natural antes de se aventurar em sua viagem.
Neuwied veio ao Brasil, em 1815, a bordo do navio inglês Janus, influenciado por dois cientistas: seu amigo e mentor, o geógrafo e naturalista alemão Alexander von Humboldt (1768-1859), que havia tentado sem sucesso entrar no país entre 1799 e 1804, quando viajava pela América espanhola, e o professor de medicina e craniometrista Johann Friedrich Blumenbach (1752-1840), considerado um dos pais da antropologia física, que havia conhecido quando frequentou a Universidade de Gottingen, em 1811 e 1812. O príncipe Maximilian estava determinado a realizar um estudo completo da fauna, da flora e dos habitantes originais da América e também levar espécimes para os acervos de história natural de seus incentivadores.
Sua condição de nobre príncipe o ajudou muito para abrir as portas e ter facilidades na acolhida no Brasil. Ainda nos arredores do Rio de Janeiro, antes de partir para sua expedição, Neuwied esteve com o diplomata russo e naturalista Georg von Langsdorff (1774-1852), proprietário da Fazenda Mandioca, que também havia estudado na Universidade de Gottingen e pertencia ao círculo dos discípulos de Blumenbach. Na propriedade de Langsdorff, o príncipe incorporou à sua comitiva o ornitólogo Georg Freyreiss (1789-1825) e o botânico e desenhista Friedrich Sellow (1789-1831), dois alemães que já viviam no Brasil há dois anos e o ajudaram na comunicação com os locais, além do caçador David Dreidoppel (1793-1866) e do jardineiro Cristin Simonis, que vieram com o príncipe do castelo de Wied.
Através de finanças próprias, Neuwied adquiriu 16 mulas e contratou carregadores e soldados índios, negros e mestiços. Com essa grande comitiva, iniciou sua jornada pela costa brasileira, em roteiro traçado por ele mesmo com a intenção de percorrer um trecho ainda desconhecido e que não tivesse sido descrito por outros viajantes. Levou cinco meses subindo pela costa as capitanias do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, onde conheceu Cabo Frio, Macaé, Campos dos Goitacazes, Nova Benavente, Guarapari, Vila Velha, Vitória e Nova Almeida e teve contato com os indígenas Puris e Coroados, em São Fidelis, e os Botocudos, em Linhares. Veja abaixo os mapas com as rotas percorridas pelo príncipe e sua comitiva, com as áreas assinaladas dos diferentes povos indígenas que encontrou.
No final de 1815 atravessou o rio Doce e chegou à antiga capitania de Porto Seguro, já então incorporada à da Bahia, onde passou mais de um ano e fez entradas pelo interior nas florestas dos rios Mucuri e Jequitinhonha. Ficou quatro meses entre os Botocudos de Belmonte, convivência que inspirou a parte mais longa da obra que viria a publicar na Alemanha e pela qual se tornou mais conhecido.
Ainda na capitania baiana, seguiu para Ilhéus, Canavieiras, Olivença, Almada, e novamente se dirigiu para o sertão, chegando até a atual cidade de Vitória da Conquista, onde pode observar uma vegetação diferente, a caatinga, e os indígenas Camacãs. Depois voltou ao litoral pelo recôncavo baiano, onde foi preso confundido com um espião estrangeiro e levado a Salvador. Depois de desfazer o mal entendido, decidiu voltar para a Europa, em 10 de maio de 1817.
De volta à Alemanha, Wied-Neuwied publicou em Frankfurt, em dois volumes em 1820 e 1821, Viagem ao Brasil nos anos de1815 a 1817, fruto das anotações e desenhos que fez in loco. A obra teve grande repercussão e em menos de cinco anos foi traduzida para o inglês, francês, italiano e holandês.
As gravuras acima são da edição francesa da obra de Wied-Neuwied, publicada pela Imprimerie Cosson, em 1822. Os desenhos feitos pelo príncipe foram adaptados pelos gravadores responsáveis por cada nova edição ao gosto de seu público. Podemos comparar, por exemplo, as gravuras que representam uma luta dos Botocudos. Na edição francesa, os indígenas ganham uma espécie de saia que cobre suas partes íntimas. Na italiana, colorida, parte do álbum Il costume antico e moderno de tutti i poppoli. L'America, publicado em 1821, estão nus.