No final do século XVIII, os desenhistas Joaquim José Codina (17---1790) e José Joaquim Freire (1760-1847) produziram mais de 600 ilustrações durante a expedição conhecida como Viagem Filosófica. Liderados pelo naturalista brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), percorreram o Pará, o Amazonas e o Mato Grosso entre 1783 e 1792. Entre os desenhos feitos por eles, mais de 250 eram de plantas, entre eles as 16 de orquídeas que podem ser vistas aqui.
As orquídeas são encontradas em quase todo o planeta, com exceção da Antártida. No Brasil existem cerca de 2.500 espécies da família Orchidaceae, sendo 1.600 com ocorrência exclusiva no país. A mata Atlântica é um dos lugares do mundo com maior variedade de orquídeas, com cerca de 1.500 espécies, e a região da Amazônia abriga mais de 700.
Como resumiu o artista francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) em seu Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2016), ao descrever a flora brasileira, há "uma tal quantidade de orquídeas que nem mesmo a vida de um homem bastaria para recolher todas as espécies existentes numa única província e que no entanto só aparecem em épocas fixas".
Apesar das ilustrações detalhadas produzidas por Codina e Freire, o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, mais focado em aspectos práticos para relatar ao reino português, como madeiras de construção, práticas de agricultura, plantas medicinais ou com algum uso humano, não se deteve sobre as flores nos escritos e anotações de viagem que produziu. "Os resultados da Viagem Filosófica comandada por Ferreira foram efêmeros. Os relatos, memórias e desenhos concebidos pelo naturalista e desenhistas permaneceram, por quase um século, em manuscritos. O material recolhido pela expedição (plantas, animais, artefatos...) não foi devidamente estudado pelos sábios portugueses, nem mesmo por Ferreira. Ao retornar a Lisboa, o naturalista dedicou o resto de sua vida à administração metropolitana", escreveu Ronald Raminelli, professor e pesquisador da Universidade Federal Fluminense, em seu artigo Ciência e colonização - Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira (Revista Tempo, 1998).
Os desenhos de Codina e Freire ficaram por anos no Real Gabinete de História Natural, em Lisboa, sem serem publicados, mas foram reproduzidos e assim chegaram ao conhecimento de cientistas de toda a Europa. Quando as tropas de Napoleão invadiram Portugal em 1807, grande parte da coleção recolhida na Viagem Filosófica foi levada para a França e também se perdeu.
O primeiro brasileiro a descrever espécies de orquídeas foi o Frei José Mariano da Conceição Veloso (1741-1811), um autodidata que percorreu o Rio de Janeiro catalogando plantas entre 1779 e 1787, cerca de dez anos antes de Ferreira. Seu Flora Fluminensis, em que o frade descreve 1.640 espécies botânicas brasileiras, sendo 62 de orquídeas, só foi publicado em 1831, após a sua morte.
O segundo brasileiro que se dedicou à catalogação de orquídeas foi João Barbosa Rodrigues (1842-1909), que publicou entre 1877 e 1881, em três volumes, o Genera et Species Orchidearum Novarum, extensa pesquisa sobre orquídeas nativas do Brasil. Barbosa teve dificuldades para publicar seu estudo, que acabou sendo lançado sem as cerca de 300 ilustrações que havia feito. Mais de uma vez o brasileiro, que em 1890 se tornou diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, recusou-se a colaborar na Flora Brasiliensis, até hoje a principal compilação das plantas brasileiras. Publicada na Alemanha, em 15 volumes, entre 1840 e 1906, a obra editada pelos botânicos Carl Friedrich von Martius (1794-1868), August Wilhelm Eichler (1839-1887) e Ignatz Urban (1848-1931), contou com a participação de 65 especialistas de vários países. Somente em 1892, Barbosa aceitou o convite feito pelo botânico belga Alfred Cogniaux (1841-1916), responsável pela parte das orquídeas na Flora Brasiliensis, e cedeu seus estudos. Das 372 pranchas publicadas em preto-e-branco no livro de Martius, 267 foram copiadas dos originais de Barbosa Rodrigues.