Graças à sua localização, o bairro de Laranjeiras é um dos mais antigos da cidade do Rio de Janeiro. Na bacia do rio Carioca, que acabou dando nome aos nascidos na cidade, a região era, na época da chegada dos portugueses, habitada pelos Tamoios, depois foi encontrada pelos franceses, até ser tomada pelos portugueses ainda no século XVI. O acesso às águas puras do rio, que desaguava na baía da Guanabara, foi um dos atrativos para o desenvolvimento da região, que foi então dividida em sesmarias entre os habitantes que lutaram para expulsar os franceses dali.

A partir do século XVII, a área começou a ser desmatada e a abrigar chácaras com plantações de arroz, mandioca, frutas e hortaliças. A proximidade da água potável, que foi bastante comercializada, incentivou a construção de fábricas de cerâmica, além do estabelecimento de pedreiras que abasteciam as construções. Com a prosperidade de suas terras, os proprietários passaram a usar suas chácaras também como uma segunda residência, dedicada ao lazer, e a região foi embelezada.

Vallis Larangeiras prope Sebastianopolin

No século seguinte, em um documento de 1780, apareceu o nome Laranjeiras pela primeira vez em referência à região que ficava no interior do vale, e que passou a se distinguir das áreas da Glória e do Catete, também na bacia do rio Carioca, no entanto, mais próximas da baía. Segundo o arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti, "Maria Graham, inglesa que esteve no Rio de Janeiro em 1821, foi quem criou a versão de que o nome 'Laranjeiras' decorria do fato de existirem no local extensos laranjais. É uma versão muito repetida pelos historiadores, mas que não tem fundamento, principalmente porque, no ano em que ela aqui esteve, havia na região, muito mais pé de café do que laranjeiras".

[Laranjeiras]

Outro atrativo do local era a fonte de águas ferruginosas, já conhecida pelos indígenas que habitavam a região por suas propriedades curativas, e que foi chamada de Águas Férreas.

Agoas Ferreas Larangeiras

Em seu artigo "Laranjeiras, berço do carioca", o historiador conta também como a degradação da área infelizmente se deu muito cedo: "Em contrapartida ao desenvolvimento da região, ocorreu a poluição do rio Carioca ao longo do trecho abaixo da 'Caixa d'Água da Carioca', do alto do Cosme Velho até a Praia do Flamengo. O rio, além de tornar-se depósito de imundices, transformou-se em uma imensa lavanderia. Com o desmatamento das margens do rio e das encostas dos morros, começaram os desabamentos das bordas do Carioca, chegando a tornar intransitável em muitos trechos a Estrada das Laranjeiras. Tornou-se contrastante o aspecto agradável das bem-cuidadas propriedades particulares e a esburacada Estrada das Laranjeiras e o poluído rio Carioca. Apesar desse contraste, o bairro ainda era considerado um dos mais belos arrabaldes da cidade".

Bica da Rainha (Larangeiras)

Em 1808, com a chegada da corte portuguesa ao Brasil, as chácaras de Laranjeiras ganharam ainda mais prestígio. A rainha Carlota Joaquina (1775-1830) comprou ali, em 1818, uma propriedade que foi reformada ao gosto europeu e muito frequentada por ela. A rainha mandou construir abaixo das águas férreas uma bica, onde ia regularmente em busca de cura para seus problemas de pele. A Bica da Rainha, como se tornou conhecida, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1938. Situada na atual rua do Cosme Velho, já foi reformada algumas vezes, mas até hoje enfrenta problemas de conservação.

Também em Laranjeiras moraram a Princesa Isabel (1846-1921) e seu marido, o conde D'Eu (1842-1922), no palácio que ganharam em 1864 de presente de casamento de D. Pedro II (1825-1891). Chamada na época de Paço Isabel, a residência foi declarada patrimônio nacional em 1890, depois da proclamação da República, e recebeu seu atual nome de Palácio Guanabara. Hoje abriga a sede administrativa do Estado do Rio de Janeiro.

Catete & Laranjeiras from the Chacara of Upper Spot 1500 feet above the level of the sea

No desenho da inglesa Marguerite Tollemache (1818-1896), datado de 1854, é possível ver como a área ainda era bastante verde e rural. Mas isso começaria a mudar com o aumento da população do Rio de Janeiro ao longo do século XIX. Na década de 1880, foi inaugurada em Laranjeiras a Companhia de Fiações e Tecidos Aliança, fábrica que teve importante influência na mudança da arquitetura e da população do bairro.