Adalbert Heinrich Wilhelm (1811-1873), príncipe da Prússia, veio ao Brasil realizar seu sonho de infância: "uma grande viagem por mar que me levasse muito longe pelo mundo afora", escreveu no prefácio de seu livro Aus Meinem Tagebuche 1842/1843 [Dos meus diários 1842/1843], publicado em 1847 na Alemanha e traduzido como Brasil: Amazonas-Xingu (Editora Itatiaia, 1977). Na gravura abaixo, o esboço da capa do diário.
O sonho do príncipe fora alimentado por diversos relatos de viagens ao novo continente realizadas anteriormente, como a do geógrafo e naturalista Alexander von Humboldt (1796-1859), que esteve nas Américas entre 1799 e 1804, do também príncipe Maximilian zu Wied-Neuwied (1782-1867), que viajou por aqui entre 1815 e 1817, dos naturalistas Carl Friedrich von Martius (1794-1868) e Johann Baptist von Spix (1781-1826), que empreenderam longa pesquisa no país entre 1817 e 1821, além do russo Barão von Langsdorff (1774-1852), que comandou sua expedição entre 1824 e 1829. Diferentemente de todos esses exploradores, o príncipe da Prússia não tinha formação científica, era apenas um curioso que seguiu carreira militar e seu sonho.
Depois de viajar com o pai e o irmão pela Europa, conhecendo a Inglaterra, a Rússia, a Grécia, a Turquia e a Itália, o príncipe Adalbert vem para o Brasil em 1842, aos 31 anos, a bordo da fragata São Miguel, cedida a ele pelo rei da Sardenha. Chegou ao Rio de Janeiro em 5 de setembro de 1842 trazendo cartas de seu pai, o príncipe Wilhelm, que o ajudam a ser recebido pela corte brasileira. Visitou D. Pedro II (1825-1891), então com 17 anos, e conheceu a colônia alemã de Nova Friburgo. Permaneceu nos arredores do Rio de Janeiro por cerca de dois meses e decidiu seguir para a Amazônia, atrás de áreas pouco visitadas por seus antecessores. O cruzador inglês Growler o levou por mar até Belém, no Pará, de onde seguiu em uma pequena embarcação a remo, subindo o rio Amazonas até Sousel no Xingu.
A gravura acima retrata a passagem pela então freguesia paraense de Breves. "Algumas touceiras de bananeiras misturavam-se por entre os dois curtos renques de casas que constituíam o lugarejo, de que a alta floresta virgem era o fundo. As casas desta rua, que desce em direção à água, são em parte construídas sobre estacas, que nas marés baixas elevam-se de 1 a 15 metros acima do solo. Suas paredes são ou de troncos de palmeira rachados ao meio, ou de uma armação de varas revestida de pecíolos de palmeiras, os telhados são de folhas de palmeiras. As janelas são, na falta de vidraças, providas de esteiras de cana em forma de grades, que me fazem lembrar as janelas dos haréns orientais", descreve o príncipe no seu diário. Ao longo do percurso, ele fez desenhos e esboços que depois foram reproduzidos por gravuristas da Prússia e estampados em seu livro.
Dia a dia, o príncipe descreve as paisagens que vê enquanto navega, como as da gravura acima. "Perto da Ilha Tarazeda fica a aldeia de Carrezedo, na margem direita do rio, que continua mais ou menos com a mesma largura de dois quilômetros, mas não a pudemos distinguir. Não muito tempo depois, cerca de 8 horas da manhã, passamos velejando por Vilarinho; duas casas sob uma grande árvore com duas ilhas defronte assinalavam o lugar. Depois passamos pela Ilha do Chapéu Virado, um grupo de árvores quase asfixiado pelas lianas, isolado no meio do rio e cercado de Caladium arborecens de altos troncos e grandes folhas".
No dia 30 de novembro, o "Brasileiro", como foi nomeado o igaraté (embarcação) que levava o príncipe e seus companheiros de viagem, alcançou o rio Xingu. "Já por muito tempo antes o Xingu se tinha anunciado pela sua clara água verde cor de garrafa a que pouco a pouco a turva amarelada do Amazonas tinha tido de ceder o lugar. Uma meia hora depois, ancorávamos em Porto de Moz", escreveu.
Chegando a Sousel, também no Pará, o príncipe procurou o vigário local que lhe fora recomendado em Belém para ajudá-lo a encontrar as tribos indígenas da região. O padre Torquato Antônio de Sousa passou a ditar o percurso da viagem e a acompanhá-los. "Resolveu-se então, por proposta do padre Torquato, subir o Xingu e o Tucuruí no igaraté até a Boca da Estrada e seguir daí a pé pela vereda para o Anauraí, para o que se calculava ser necessário quatro dias. Em Porto Grande embarcaríamos em canoas descendo o Anauraí e subindo o Xingu até a última maloca dos jurunas", escreveu em seu diário.
O príncipe percorreu a região do Xingu em canoas e teve contato com alguns indígenas jurunas. Ao todo, sua estadia na Amazônia durou cerca de seis semanas. Voltou para Belém a bordo do Brasileiro e lá embarcou novamente no Growler para a Bahia e de lá, na mesma fragata que o trouxe ao Brasil, a São Miguel, voltou para a Europa.
Na Prússia, o príncipe retomou sua carreira militar e dedicou-se à Marinha de seu país. Morreu aos 62 anos.