O arquiteto Auguste-Henry Victor Grandjean de Montigny (1776-1850) veio ao Brasil em 1816 na Missão Artística Francesa, junto com os pintores Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e Nicolas Antoine Taunay (1755-1830), o escultor Auguste Marie Taunay (1768-1824) e outros artistas. Entre os objetivos da missão, chefiada pelo administrador e político Joachim Lebreton (1760-1819), estava a difusão de conhecimentos artísticos e técnicos no Brasil. Para isso, D. João VI (1767-1826) criou por decreto, naquele mesmo ano, a Escola Real de Ciências e Artes e Ofícios e contratou os franceses como professores.
Quando chegou ao Brasil, Grandjean de Montigny era um arquiteto conhecido e renomado na França. Havia ganhado, em 1779, o importante Prêmio de Roma e uma bolsa de estudos na Academia da França na capital italiana, onde se tornou um aluno brilhante. Fez projetos na Itália e na França, mas com a queda de Napoleão, em 1815, perdeu prestígio e se juntou à missão de Lebreton no Brasil. Aqui, fez projetos de urbanização do centro do Rio (1825) e de um Palácio Imperial (1848), que nunca foram adiante. Também dividiu com Debret a criação de ornamentos para as festividades oficiais, como a aclamação de D. João VI. Deu aulas na Academia Imperial de Belas Artes, como único professor de arquitetura até sua morte, e formou toda uma geração de arquitetos brasileiros.
Gradjean de Montigny foi o responsável pelo projeto do edifício da escola, que só seria inaugurado em 1826, e com o nome de Academia Imperial de Belas Artes. Na gravura de Debret (abaixo), podemos ver o prédio da Academia, construído com menos andares do que Montigny havia projetado. "O edifício da Academia de Belas Artes, constituído em grande parte por um vasto rés do chão inteiramente destinado às salas de estudo, não passa, em verdade, de um fragmento do projeto geral primitivamente adotado, mas que, por motivos de economia, ficou reduzido, oito anos mais tarde, a essa construção, então terminada no intuito de apressar a instalação da Escola de Belas Artes, tão ardentemente desejada pelo imperador", escreveu Debret em seu livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2016). Àquela altura, o Brasil já era um país independente e o imperador citado é D. Pedro I (1798-1834).
Demolido em 1938, só sobrou do prédio da Academia o pórtico clássico, que até hoje pode ser visto, em parte, na alameda das palmeiras imperiais na entrada do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. As esculturas de Apolo e Minerva, obras de Marc Ferrez (1788-1850), que adornavam o pórtico, desapareceram.
O arquiteto construiu na Gávea a casa em que passou a viver com sua família até sua morte. A construção, hoje conhecida como Solar Grandjean de Montigny, pertence à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e funciona como centro cultural da faculdade. O arquiteto veio ao Brasil com a esposa e quatro filhas e uma delas, Agustine Elisa Julie, se casou, em 1821, com o pintor francês Arnaud Julien Pallière (1784-1862), autor da pintura acima. No quadro, em que retrata o banho de seu filho na varanda da casa do avô, Grandjean de Montigny, é possível identificar a construção, que mistura colunas do neoclassicismo com a arquitetura colonial, entre escravizados que ajudam no banho e a vegetação tropical.
Entre suas obras que ficaram, está também seu primeiro projeto no Brasil, feito por encomenda de D. João VI: a Praça do Comércio, para a qual construiu um prédio entre junho de 1819 e maio de 1820, considerada uma das primeiras experiências de arquitetura neoclássica no Rio de Janeiro. O prédio, que hoje abriga a Casa França-Brasil, centro cultural do Rio de Janeiro, era o local de reunião dos homens de negócios da época, mas teve essa função por pouco tempo. No ano seguinte à sua inauguração, depois de uma revolta popular contra D. João VI na praça, ela ficou fechada até 1824, quando o prédio passou a abrigar a Alfândega. Na gravura acima, de 1856, o edifício retratado pelo pintor holandês Pieter Godfried Bertichen (1796-1856).