Uma ilha desabitada, em posição estratégica, e a ponta de um vulcão extinto há milhões de anos chamaram a atenção dos primeiros viajantes que passaram por Fernando de Noronha. O arquipélago teria sido identificado, em 1503, pelo navegador italiano Américo Vespúcio (1454-1512), durante uma expedição portuguesa financiada pelo fidalgo Fernán de Loronha (1470-1540), que recebeu a ilha como sua capitania hereditária, do rei dom Manuel, no ano seguinte. O fidalgo nunca conheceu sua capitania, a primeira do Brasil, mas ela acabou levando seu nome, na versão adaptada para Fernando de Noronha.
Como nunca foi ocupada por seu donatário, a ilha passou a sofrer vários ataques de piratas. Em 1612, uma comitiva francesa que rumava para o Maranhão, onde pretendia estabelecer uma colônia chamada França Equinocial, parou por quinze dias em Fernando de Noronha. Integrante da comitiva, o missionário capuchinho Claude D'Abberville (?-1632) registrou em seu livro, publicado em Paris em 1614, História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e Terras Circunvizinhas (Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1975), suas impressões sobre a ilha. Além dos pássaros e das árvores nativas, o missionário também escreveu sobre a pequena população que ali encontrou: "Como habitantes, encontramos nessa ilha um português e dezessete a dezoito índios, homens, mulheres e crianças, todos escravos e para aí exilados pelos moradores de Pernambuco". Segundo o missionário, depois de serem batizados, os habitantes da ilha pediram para serem levados para o continente e assim não teria sobrado mais ninguém na ilha.
Entre 1629 e 1654, foi a vez de holandeses ocuparem a ilha e, no século seguinte, entre 1736 e 1737, os franceses, que a chamaram de ilha Delphine. Após a invasão francesa, os portugueses decidiram fortificar o território para não perdê-lo. Coube à então capitania de Pernambuco construir um sistema defensivo com dez fortes para impedir novas invasões. Ergueram também na ilha uma Colônia Correcional (presídio) para onde foram enviados, em 1739, os ciganos que estavam no Brasil. Em 1890, o presídio recebeu muitos capoeiristas e, mais recentemente, a partir de 1938, presos políticos.
O presídio pode ser visto no desenho (acima) do pintor inglês Thomas Lyde Hornbrook (ca. 1780-1850). Filho de um oficial da marinha, Hornbrook foi nomeado, por volta de 1833, pintor de marinhas pela duquesa de Kent (1786-1861) e sua filha, a futura rainha Vitória (1819-1901). O artista, que vivia em Plymouth, cidade portuária e principal base da Marinha Real Britânica no sudoeste da Inglaterra, viajou para a Espanha, onde lutou por quase quatro anos e também pintou imagens da primeira guerra Carlista (1833-1839).
Nesta outra aquarela (acima), Hornbrook mostra oficiais numa embarcação na costa da ilha e destaca o Morro do Pico, o ponto mais alto do arquipélago com 321 metros de altura. Ele é a ponta de um sistema de montanhas submarinas de origem vulcânica que se ergue do chão do oceano a cerca de 4.000 metros de profundidade. O morro do Pico também chamou a atenção de outro inglês que esteve na ilha em 1832, o naturalista Charles Darwin (1809-1882). Aos 22 anos, ele participou da expedição da marinha inglesa, a bordo do HMS Beagle, para prospectar dados cartográficos da América do Sul. "Tanto quanto pude observar, durante as poucas horas em que estive nesse lugar, a constituição dessa ilha é vulcânica, embora, provavelmente, não de época recente. A característica mais notável é uma colina cônica, de aproximadamente 1.000 pés (310 metros) de altura, cuja parte superior é extremamente íngreme e que se projeta sobre sua base, de um lado”, escreveu em seu livro de viagem. De lá, Darwin seguiu para Salvador e para o Rio de Janeiro. A expedição, em que o cientista também analisou a flora e a fauna do continente, deu subsídios para sua obra que redefiniria a ciência moderna, A Origem das Espécies, lançada em 1859.