Derivadas das sesmarias criadas no século XVI, grandes extensões de terra concedidas a portugueses pela Coroa e que passavam de geração em geração, as fazendas se impuseram na paisagem brasileira do século XIX. A fazenda Pombal (abaixo), parte da Colônia Leopoldina, foi uma criação de outro tipo. Primeira fundada no Brasil, em 1818, por alemães e suíços, a colônia fez parte da tentativa de atrair imigrantes europeus, com o decreto criado em 1808 por D. João VI (1767-1826), que permitia doar terras a estrangeiros para formarem aqui colônias agrícolas.

Fazenda Pombal, Colônia Leopoldina, Bahia

Com esse decreto, a coroa portuguesa, que se instalara no Brasil, pretendia promover a ocupação de áreas improdutivas, trazer tecnologias usadas na Europa em agricultura e indústria e, ao criar uma nova classe de trabalhadores, dar início à política de branqueamento da população, que iria permanecer até o início do século XX. Para receber as terras, os incentivos financeiros, a isenção de impostos e as sementes para plantar, os estrangeiros eram obrigados a só empregar trabalhadores livres. Os alemães e suíços que se estabeleceram na Colônia Leopoldina, no sul da Bahia, onde hoje fica a cidade de Nova Viçosa, tentaram prosperar dessa maneira, mas como se pode ver na pintura (abaixo) do artista suíço Bosset de Luze (1754-1838), de 1820, já havia pessoas escravizadas na fazenda Pombal. Por volta de 1850, quando esteve em seu auge, a colônia exportava muitas toneladas de café produzidas com o trabalho de milhares de escravizados. Um pouco pelo esgotamento do solo e muito devido ao fim da escravidão, quando os proprietários foram então obrigados a pagar pelo trabalho, a colônia faliu como outras fazendas de café. Alguns estrangeiros permaneceram na região e passaram a se dedicar ao cultivo de cacau, outros foram para as cidades ou voltaram para seus países.

Vista da Fazenda Pombal, Colônia Leopoldina, Bahia

Um dos fundadores da Colônia Leopoldina foi o naturalista Georg Wilhelm Freyreiss (1789-1825) que havia passado pela região acompanhando a expedição do príncipe alemão Maximilian zu Wied-Neuwied (1782-1867). Wied registrou em seu livro, Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817, publicado na Alemanha em dois volumes, em 1820 e 1821, sua passagem pela fazenda Tapebuçu (abaixo), onde também se cultivava café, ao norte da região hoje conhecida como Rio das Ostras, no Rio de Janeiro.

Vue de la Fazenda de Tapébuçu près de la côte, du Mont St. Joâo, et de la Serra de Iriri qui s´èlève du millieu des forêts

No mesmo estado, mais ao norte, em Campos dos Goytacazes, a Fazenda do Beco é uma representante do ciclo da cana-de-açúcar. Na gravura abaixo, feita a partir de fotografia do francês Victor Frond (1821-1881), é possível ver o casarão, construído em 1846, propriedade do brasileiro Joaquim Pinto Neto dos Reis (?-1867), o Barão de Carapebus, e que recebeu mais de uma vez a visita de D. Pedro II (1825-1891), nos anos de 1847 e 1883. O casarão foi construído como sede do Engenho de Santo Antônio, que mais tarde se tornaria uma usina de açúcar, e hoje abriga o Asilo Nossa Senhora do Carmo, mas, apesar de ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), está interditado devido à sua má conservação.

Fazenda do Beco (Campos)

Outra propriedade fluminense que aparece no livro Brasil Pitoresco, publicado na França em 1861 e escrito pelo jornalista Charles Ribeyrolles, é a fazenda do Governo, hoje chamada de Maravilha e que recebe muitos visitantes em Barra do Piraí. O rico casarão (abaixo), construído pelos proprietários, o advogado Joaquim Antônio Pereira da Cunha e sua mulher Francisca Cândida, no auge do ciclo do café, também foi visitado por D. Pedro II, em 1848.

Fazenda du Governo (Parahyba-do-Sul)

A fazenda do Secretário (abaixo), cujo nome se deve ao ribeirão próximo a suas terras ou ao cargo de José Ferreira da Fonte, proprietário da sesmaria que originou a fazenda, foi fundada ainda no século XVIII. Localizada no município de Vassouras, no estado do Rio de Janeiro, teve seu casarão construído em 1830 pelo seu novo proprietário Laureano Corrêa e Castro (1790-1861), o Barão de Campo Belo, e chegou a abrigar 500 mil pés de café e 366 pessoas escravizadas.

Fazenda du Secrétario (Municipe de Vassouras)