O pintor alemão Carlos Linde (c.1830-1873) começou com sucesso sua carreira no Brasil. Em 1859, ano em que chegou aqui, apresentou três trabalhos na Exposição Geral de Belas Artes do Rio de Janeiro (EGBA), recebeu a medalha de ouro, e criou, junto com os irmãos Henrique (1823-1882) e Karl (?-1878) Fleiuss, a Fleiuss Irmãos & Linde, uma empresa particular de produção gráfica e plástica, que se tornou também um instituto de ensino de artes gráficas, onde Linde se dedicou a ensinar a técnica de xilogravura (que utiliza a madeira como matriz para reproduzir a imagem sobre o papel).

O artista alemão logo abandonou seu nome Karl e o substituiu pelo brasileiro Carlos, com o qual passou a assinar seus trabalhos por extenso ou como C. Linde, como se pode ver nas gravuras desenhadas por ele e publicadas pela sua empresa em 1860, no Álbum do Rio de Janeiro.

Chafariz da Carioca e Convento de S. Antônio

Na gravura acima, que retrata o Chafariz da Carioca e o convento de Santo Antônio, no centro do Rio de Janeiro, podemos observar à direita um grupo de pessoas negras conversando, ao fundo, próximas ao chafariz, lavadeiras com trouxas na cabeça e, no centro, um cavalo puxando uma carroça com um tonel, provavelmente de água, além de um casal bem vestido. As edificações da cidade ganham vida com os diversos tipos humanos que a habitam, assim como nas gravuras que mostram o Largo do Paço e a Praça do Comércio (abaixo).

Largo do Paço, Palacio, Capella Imperial e Carmo

Acredita-se que Linde e os irmãos Fleiuss, também alemães, chegaram juntos ao Brasil, passaram rapidamente pelo Nordeste e se estabeleceram no Rio de Janeiro. Henrique Fleiuss veio com uma carta de recomendação de seu mentor, o naturalista Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868), que esteve no Brasil entre 1817 e 1820, o que os aproximou de D. Pedro II e sua corte. O instituto de ensino criado por eles ganhou, em 1863, o título de "Imperial", um reconhecimento concedido pelo imperador: "Por ocasião da 1ª Grande Exposição Nacional, em 1861, Fleiuss executou gratuitamente a ornamentação de grande parte do edifício da Escola Politécnica onde o evento se realizou, além de imprimir, como cortesia para o governo, o álbum Recordação da Exposição Nacional. Essa atitude simpática ao governo e de apoio às ações de modernização do país foram alvo de agradecimentos pessoais do Imperador, que lhe convidou a frequentar o Paço Imperial. Mais adiante, em 1863, através do decreto de 3 de outubro, a casa impressora viria a ostentar o título de Imperial Instituto Artístico, distinção que coroava a excelência dos serviços prestados ao Império", escreveu o pesquisador Julio Cesar dos Reis, em seu artigo "Natureza e progresso nas Belas Artes: o álbum litográfico Estrada de Ferro de D. Pedro II" (Revista de História da Arte e da Cultura, Campinas, SP, v. 4, n. 2, jul-dez 2023). No Imperial Instituto Artístico, estudou o pai do escritor Lima Barreto (1881-1922), João Henriques de Lima Barreto (1853-1922), filho de uma mulher negra liberta e que se tornaria tipógrafo.

Praça do Comércio

A empresa de Linde e Fleiuss publicou também, aos domingos, entre 1860 e 1876, a revista Semana Illustrada, com textos e ilustrações que se tornaram bastante populares. Entre seus colaboradores, estavam escritores como Machado de Assis (1839-1908), Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), Joaquim Nabuco (1849-1910) e Bernardo Guimarães (1825-1884).

Linde é também responsável por vários dos desenhos litografados no álbum Estrada de Ferro de Dom Pedro II, publicado em 1864 e que mostra a construção da ferrovia, suas plantas, pontes e estações. Também produziu litografias para um álbum sobre a Guerra do Paraguai (1864-1870). O pintor, litógrafo, gravurista, tipógrafo e escultor seguiu suas atividades como artista e professor até sua morte em 1873, no Rio de Janeiro.