Não há consenso entre historiadores a respeito de quem teria tido a iniciativa de promover a formação de um grupo de artistas franceses, cuja presença no Brasil acarretaria a criação de uma Academia de Belas Artes, antes mesmo que uma instituição assim existisse em Portugal. O fato é que o grupo, conhecido como Missão Artística Francesa, aportou no Rio de Janeiro em março 1816, poucos dias após a morte da rainha D. Maria I (1734-1816), o que que faria de D. João VI (1767-1826) o novo rei português.
Liderado por Joachim Lebreton (1760-1819), o grupo de “missionários” franceses incluía o pintor Nicolas Antoine Taunay (1755-1830), o escultor Auguste-Marie Taunay (1768-1824), o também pintor Jean-Baptiste Debret (1768-1848), o arquiteto Grandjean de Montigny (1776-1850) e o gravador de medalhas Charles-Simon Pradier (1786-1843) entre outros artífices. Meses depois de sua chegada, um decreto de D. João VI criaria a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios e estabeleceria os honorários de contratação dos franceses como professores da instituição. Percalços retardaram o início das atividades da Escola, que viria a funcionar plenamente apenas em 5 de dezembro de 1826, já com o nome de Academia Imperial de Belas Artes (Aiba).
Do grupo de Lebreton, é importante destacar a atuação de Grandjean de Montigny, como formador de uma geração de arquitetos brasileiros. Ele também foi o introdutor de um novo vocabulário neoclássico no panorama da arquitetura do país, antecedido apenas por Antonio Landi (1713-1791), arquiteto ativo no Pará. Entretanto, os artistas de maior destaque são Taunay e Debret, respectivamente, o professor de pintura de paisagem e o de pintura histórica da Academia.
Taunay nunca se integrou de fato ao grupo e acabou isolando-se na propriedade que adquiriu na floresta da Tijuca, próxima à cascata que hoje é conhecida com seu nome. Era um artista de carreira consolidada em Paris. Descendia de uma família de ourives e joalheiros, tinha cumprido sua formação artística na França e Itália e atuado como pintor do círculo de Napoleão Bonaparte (1769-1821). Decidiu partir para o Brasil, aos 61 anos, acompanhado da mulher e dos cinco filhos. Produziu poucas obras nos cinco anos em que viveu no Rio de Janeiro, sendo a maioria pinturas de paisagem em visão idealizada da natureza brasileira. Não formou outros discípulos além de seus filhos e teve em um deles, Félix Taunay (1795-1881), um continuador.
Debret, ao contrário, viveu 15 anos no Brasil, e a concretização da Academia de Belas Artes deve muito a seu empenho pessoal. Foi responsável por instituir rotina e prática de ensino em ateliê, mesmo antes da abertura oficial da instituição. Formou a primeira geração de pintores brasileiros com treino acadêmico, iniciando o gênero da pintura histórica no Brasil. Foi também o idealizador das duas primeiras exposições de arte realizadas no Rio de Janeiro em 1829 e 1830. Seu legado pictórico é importante, não apenas pelas imagens que perpetuam os acontecimentos da Corte portuguesa no Brasil, mas, em especial, pelas aquarelas. Estas foram transpostas depois para o livro Voyage Pittoresque et Historique au Brésil [Viagem pitoresca e histórica ao Brasil], publicado entre 1834 e 1839 na França.
Mais do que registros do cotidiano da vida na cidade do Rio de Janeiro no início do século XIX, as gravuras de Debret revelam um artista com concepção ampla de história, um “pintor-filósofo”, como ele mesmo se intitulava. Debret não se limitou a narrar fatos históricos, mas tentou apreender em sua obra a organização social do país e analisar os valores que indicavam o estado de “civilização” nacional, sempre encarados com humor.