Terceiro centro comercial do império, Recife substituiu Olinda como capital da Província de Pernambuco em 1827. Assim como outras cidades brasileiras, durante o século XIX, viveu crescimento e desenvolvimento urbanos significativos. Isso a definiu como núcleo econômico da região que abrangia as províncias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, parte do Ceará, Piauí e parte da Bahia.

Correio de Pernambuco no dia da chegada do vapor de Europa [Praça de Pedro II]

Essa vitalidade econômica atraiu para o Recife muitos artistas viajantes, que passaram pela cidade ou ali se estabeleceram, ainda que não em definitivo. Entre eles, Luis Schlappriz, pintor e litógrafo suíço que chegou em Pernambuco em março de 1858, acompanhando um familiar que veio exercer funções diplomáticas. Parte dos registros feitos sobre a cidade foi publicada em Memória de Pernambuco – Álbum para os amigos das artes, que reúne mais de 30 litografias coloridas à mão. O livro foi publicado pela oficina litográfica de Franz Heinrich Carls e é conhecido por ser a primeira coleção de gravuras inteiramente litografadas no Recife. Na imagem abaixo, Schlappriz registrou o movimento da rua da Cruz, atual Bom Jesus, onde funcionava a oficina litográfica de Carls. Ao fundo, vemos a Torre Malakoff, monumento que integra o patrimônio histórico e turístico da cidade até hoje. 

Rua da Cruz

As imagens de Schlappriz revelam Recife em uma fase de progresso. As obras e os avanços socioestruturais que aparecem nos registros – como o abastecimento de água potável nos bairros centrais, a construção do cemitério público de Santo Amaro, a instalação de lampiões a gás – foram resultado da administração de Francisco do Rego Barros, o conde da Boa Vista, que modernizou a cidade com base em uma estética (e uma mão de obra) europeia. Além de ter criado a Companhia Operária, com pedreiros, carpinteiros e marceneiros alemães, ele convocou uma missão técnica de engenheiros franceses para atuar na cidade. Entre eles, Louis-Léger Vauthier, responsável, entre outros projetos, pela construção do Teatro de Santa Isabel, inspirado nos teatros europeus de ópera da época.  

Vista do Recife tomada do salão do Theatro de S. Isabel

Também é de Vauthier o projeto da ponte pênsil de Caxangá, a primeira do gênero no Brasil e possivelmente na América do Sul. A ponte, que passava sobre o Rio Capibaribe, foi construída em 1845 para facilitar o transporte de produtos para o porto de Recife e pode ser vista no registro de outro artista viajante, o alemão Emil Bauch.  

Pernambuco Nº. 11 Ponte Pensil do Caxangá

Essa transformação na paisagem da cidade fica mais evidente quando comparamos as imagens de Schlappriz e Bauch com obras anteriores, também presentes na Brasiliana Iconográfica. As gravuras de Frans Post, por exemplo, publicadas em 1647 no livro de Caspar Barlaeus, revelam uma Recife, ou Mauritsstad (a Cidade Maurícia, como foi chamada durante o governo de Maurício de Nassau), ainda sob o domínio holandês. Nos registros abaixo, vemos os dois palácios que Nassau construiu na Ilha de Antônio Vaz, atual bairro de Santo Antônio do Recife: o Palácio da Boa Vista e o Palácio de Friburgo. Este último era a residência e o local de despachos do conde de Nassau e foi praticamente destruído durante as lutas contra os portugueses na época da Insurreição Pernambucana. Entre 1774 e 1787, o que sobrou do Palácio foi demolido por ordem do então governador da província, José César de Meneses.

Friburgum

A partir de registros como o de Frans Post, o Itaú Cultural reconstruiu, virtualmente, o Palácio de Friburgo e promove em sua sede, em São Paulo, um passeio virtual pela residência de Nassau.