O álbum Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, de Jean Baptiste Debret (1768-1848), é provavelmente a obra mais popular entre as reunidas na Brasiliana. Neste site temos gravuras de quatro edições: duas que pertencem à Biblioteca Nacional, outra à Pinacoteca e a última, à Coleção Brasiliana Itaú. A maior coleção é a da Biblioteca Nacional, com mais de 300 gravuras. A Pinacoteca tem 146 pranchas do livro, das quais quatro são gravuras coloridas e as outras em preto e branco. Da Coleção Brasiliana Itaú, temos 61 gravuras coloridas.
O Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, fruto dos 15 anos que Debret passou no país, de 1816 a 1831, foi publicado em Paris, em três volumes. Os dois primeiros saíram em 1834 e 1835, respectivamente. O terceiro e último foi lançado apenas em 1839. Os volumes reuniam 153 pranchas de gravuras e mais de 500 páginas de texto.
Em Paris, o livro de Debret não teve o sucesso esperado. "A obra foi um fracasso. As causas para tanto são múltiplas, uma delas certamente ligada à saturação do mercado. Eram muitas as viagens pitorescas a disputar o olhar dos interessados", escreveu o sociólogo e filósofo francês Jacques Leenhardt (1942), em seu ensaio "Um olhar transversal sobre a construção da nação brasileira", que abre a mais recente edição brasileira do Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2019).
Na época da publicação em Paris, foi anunciado que havia apenas 200 exemplares de cada volume, mas posteriormente os estudiosos concluíram, devido à quantidade de originais que começaram a aparecer no mercado, em bibliotecas e em acervos particulares, que essa informação teria sido um golpe de marketing para valorizar a obra. O fato de as primeiras edições terem sido feitas no formato de fascículos, o que facilitava sua divisão e permitia destacar as gravuras para emoldurá-las, também contribuiu para dificultar a contagem precisa da tiragem dessa obra.
"A discussão sobre as cores na obra de Debret, especialmente nas gravuras, é assunto controverso. Segundo os organizadores do catálogo raisonné, a primeira tiragem de Voyage pittoresque et historique au Brésil foi toda em preto-e-branco, ainda que algumas edições de luxo tivessem sido coloridas à mão por funcionários da Firmin Didot, sob a supervisão direta de Debret. Segundo os autores, esse trabalho era realizado por coloristes profissionais que aquarelavam as gravuras a partir da orientação dos editores ou do próprio artista, o que parece ter sido o caso do Voyage pittoresque", informa Anderson Ricardo Trevisan em sua tese Velhas Imagens, Novos Problemas – a Redescoberta de Debret no Brasil Modernista (1930-1945) (USP, 2011).
Nas imagens abaixo, as duas primeiras da Biblioteca Nacional, a terceira do Instituto Itaú e a última da Pinacoteca, podemos observar essa variação de cor.
O sucesso que não pôde testemunhar em seu país, Debret obteve cerca de um século depois no Brasil. Além de seu valor artístico, o aspecto documental da vida brasileira no século XIX nas gravuras de Debret atraiu a atenção das vanguardas dos anos 1920 e se popularizou ainda mais nas décadas seguintes. Abaixo, temos um exemplo de como Debret documentava com detalhes cenas cotidianas do século XIX e acabou sendo referência de historiadores a figurinistas de televisão.
"A etapa fundamental do novo reconhecimento de Debret foi sem dúvida a compra de um grande acervo de esboços e aquarelas acabadas redescoberto no final dos anos de 1930 e trazido para o Brasil por Raymundo Ottoni de Castro Maya. A partir daí consolidou-se no Brasil uma verdadeira 'Debretmania' e suas imagens foram reproduzidas ad nauseam em folhinhas, revistas, jornais, livros de história e manuais escolares, tornando seu nome familiar a um grande número de brasileiros" (BANDEIRA, Julio e LAGO, Pedro Correa do, Debret e o Brasil: Obra completa 1816-1831, Editora Capivara, 2007).