O pintor, professor, arquiteto, litógrafo e empresário francês Jules Martin (1832-1906) foi um grande entusiasta do desenvolvimento de São Paulo, cidade onde viveu a partir de 1869. Martin presenciou justamente o período conhecido como a "segunda fundação" da cidade, quando esta deixou de ser um povoado para se tornar a importante capital da Província, que progredia velozmente com os lucros dos fazendeiros de café. Vias férreas foram construídas do interior para a capital e dela para o porto para escoar a mercadoria que se tornava cada dia mais valiosa. Os barões do café montaram escritórios e residências, o comércio prosperou, a cidade ganhou vida e os negócios de Jules Martin se expandiram.
Martin nasceu em Montiers, na França, estudou Belas Artes em Marselha e trabalhou em ateliês em Paris. Em 1868, a convite de seu irmão, decidiu vir para o Brasil e foi trabalhar com ele em uma fábrica de algodão em Sorocaba, no interior paulista. No ano seguinte, transferiu-se para a capital e voltou a se dedicar à pintura, dando aulas e expondo obras no estúdio de Carneiro & Gaspar e nas Casas Garraux. Em 1870, abriu sua casa litográfica, onde iniciou intensa atividade de impressão de panfletos, cartazes, mapas (abaixo) e todo tipo de peças gráficas, atendendo às novas demandas do comércio e da urbanização de São Paulo.
Foi em sua Imperial Litografia a Vapor, título recebido em 1875 de dom Pedro II (1825-1891), que Jules Martin se firmou como figura popular e admirada na São Paulo do final do século XIX. O empresário documentou em suas gravuras várias transformações importantes por que passava a cidade e também contribuiu com projetos de reformas, monumentos e espaços públicos. Ele costumava exibir litografias de seus projetos na vitrine de sua oficina, para que se tornassem assunto entre a população e os governantes.
O projeto mais conhecido de Jules Martin é o que fez para a construção do Viaduto do Chá (abaixo). Com o crescimento e loteamento da área no antigo Morro do Chá, tornou-se necessária sua ligação com o outro lado do vale, onde ficava o centro antigo. Subir e descer as encostas dos morros com bondes puxados por animais não se ajustava mais à nova urbanização da cidade.
Martin conseguiu a aprovação de seu projeto, e as obras foram iniciadas em 1888, mas logo paralisadas e só retomadas no ano seguinte, depois de uma briga, que ganhou os jornais, do grupo de Martin contra o Barão de Tatuí (1831-1914), proprietário de uma casa que teria de ser demolida para a construção do viaduto. Martin venceu, e a inauguração se deu em 1892, com grande sucesso. Foi o primeiro viaduto de São Paulo, cidade que mais tarde seria marcada por eles e pelos túneis.
O empresário fez ainda projetos como o da Galeria de Cristal, nos moldes das galerias francesas, para o comércio no centro da cidade, da estátua de José Bonifácio e da estrada de ferro para São Sebastião. Também se dedicou a divulgar projetos de outras pessoas, como reformas que estavam sendo feitas na cidade para torná-la mais urbanizada e "europeia".
Martin expôs em sua oficina, por exemplo, uma gravura do projeto de reforma do novo Palácio do Governo, que serviria ao então presidente Florêncio de Abreu (1839-1881). A gravura de Martin (abaixo) traz detalhes, como urnas e estátuas, nunca concretizados na reforma, que levou cinco anos para ser feita e retrata o projeto inicial, que teve de se adaptar às verbas e aos gostos.
Outro momento importante da cidade registrado por Martin foi o início da construção do que ele chama de Monumento do Ypiranga, que se tornaria depois o Museu do Ipiranga (abaixo). O edifício começou a ser construído em 1885 com estilo arquitetônico baseado em um palácio renascentista. Levou cinco anos para ser construído e foi inaugurado em 15 de novembro de 1890, no primeiro aniversário da República. O Monumento do Ipiranga que conhecemos hoje foi feito pelo italiano Ettore Ximenes e inaugurado, ainda sem estar concluído, no dia 7 de setembro de 1922, quando Martin já tinha morrido.