Os holandeses ocuparam o Nordeste do Brasil durante cerca de 30 anos. Depois de uma tentativa frustrada de dominar a Bahia, em 1624, instalaram o governo colonial em Recife, em 1630. Criaram a Companhia das Índias Ocidentais, que organizou e financiou as invasões, para garantir a produção e o escoamento do açúcar, produto de exportação mais valioso da época. Entre 1636 e 1644, esse governo foi chefiado pelo conde José Maurício de Nassau-Siegen (1604-1679), que, para documentar seus feitos na colônia, trouxe em sua comitiva pintores como Albert Eckhout e Frans Post, o médico Willem Piso, o biólogo e cartógrafo Georg Marcgraf, entre outros homens da ciência.
Nassau ampliou o domínio dos holandeses no Nordeste brasileiro, abrangendo as capitanias do Sergipe ao Maranhão. Na antiga ilha de Antônio Vaz, hoje o bairro de Santo Antônio, em Recife, o conde construiu sua grande obra, a Cidade Maurícia (Mauritsstad), inspirada nas cidades europeias, com o Palácio de Friburgo, onde residia e governava, e o Palácio da Boa Vista, sua residência de lazer, com jardins de plantas e animais exóticos.
Os dois palácios podem ser vistos nas gravuras (acima) do pintor holandês Frans Post (1612-1680), que veio ao Brasil, aos 24 anos, como responsável por registrar as paisagens das regiões conquistadas pelos holandeses, as batalhas e as principais edificações. Esses desenhos ilustram o livro de Gaspar Barléu (1584-1648): História dos Feitos Recentemente Praticados durante Oito Anos no Brasil e noutras partes sob o Governo do Ilustríssimo João Maurício Conde de Nassau (Rerum per Octennivm in Brasilia, publicado na Holanda em 1647, e traduzido e publicado no Brasil em 1940, pelo Ministério da Educação). Encomendado por Nassau para divulgar suas conquistas, o livro tem o imenso valor de documentar vários aspectos do Brasil holandês. Até essa época, o que se sabia sobre o Novo Mundo era principalmente através de relatos escritos. Foram os pintores de Nassau que produziram as primeiras imagens detalhadas da colônia.
Na gravura abaixo, por exemplo, vemos Igarassu, hoje um município da região metropolitana de Recife, que, na época, era uma pequena vila. Nela, estão assinaladas duas construções que sobreviveram ao tempo: a Igreja dos Santos Cosme e Damião, construída em 1535, a igreja mais antiga ainda remanescente no Brasil, e o Convento Franciscano de Santo Antônio, de 1588.
E, como não poderia faltar, abaixo vemos o principal interesse da invasão dos holandeses, o açúcar, através do trabalho dos escravizados no Engenho de Itamaracá.
Post pintou também cerca de 18 quadros, sempre retratando paisagens, enquanto esteve no Brasil. Ao voltar para a Holanda, em 1644, continuou pintando a óleo uma centena de paisagens brasileiras, baseadas em seus esboços e desenhos, que encontraram um grande mercado. Mas, aos poucos, o artista foi repetindo temas e abandonando a verossimilhança de suas produções anteriores. Podemos ver duas delas aqui na Brasiliana Iconográfica.
Infelizmente, a maioria das obras produzidas no Brasil nesse período voltaram para a Holanda em 1644, com o conde de Nassau e seus pintores. Muitas foram dadas de presente a reis da Dinamarca e da França, entre outros.
A pintura acima é do artista e botânico Albert Eckhout (1610-1666), companheiro de Post na viagem ao Brasil, e que ficou responsável por retratar os tipos humanos, a fauna e a flora. Podemos ver que, ao contrário de Post, ele desenhava figuras vistas de perto e também naturezas mortas. Eckhout produziu muito no Brasil, cerca de 400 desenhos e esboços a óleo feitos em observação direta de plantas e animais que avistou em suas excursões ou no jardim do palácio de Nassau. Pintou também grandes telas retratando tipos humanos brasileiros, como homens e mulheres indígenas, de descendência africana e mestiços.
Por último, podemos ver aqui na Brasiliana Iconográfica este e outros mapas, feitos pelo biólogo e cartógrafo alemão Georg Marcgraf (1610-1644), que veio ao Brasil, também a pedido de Mauricio de Nassau, como ajudante do médico Willem Piso (1611-1678). Marcgraf fez também dezenas de aquarelas da fauna e flora do país, que podem ser vistas aqui no site, e que ilustram a Historia Naturalis Brasilae (1648), a primeira obra científica sobre a natureza brasileira, feita em parceria com Piso, e que se tornou referência para estudiosos por mais de um século.