A Brasiliana Iconográfica está promovendo mudanças em sua plataforma para, no futuro, receber novas coleções e ampliar seu acervo digital. Atualmente com 2.558 itens em alta resolução, entre desenhos, aquarelas, pinturas, gravuras e impressos, o portal disponibiliza para o público um rico material de pesquisa sobre a cultura e a história do Brasil, que cobre o período do século XVI até o início do século XX.
Sem memória, nos sentimos perdidos. Isso vale também para o país e sua sociedade. Nesse sentido, o projeto Brasiliana Iconográfica é fundamental para entendermos quem somos através de imagens, que podem nos causar vergonha, como a gravura (abaixo) do pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que retrata cenas de tortura com escravizados, ou orgulho, como tantas das paisagens que encantaram os artistas europeus.
Apenas do acervo da Biblioteca Nacional, uma das instituições mais antigas do país, a Brasiliana Iconográfica tem 1.077 imagens, que estavam acessíveis no site da BN, mas que reunidas neste portal ganharam ainda maior importância, especialmente em tempos de pandemia. "Quando foi assinado o acordo da Brasiliana Iconográfica, o que me chamou atenção foi que era como se fosse, agora no digital, o que a Biblioteca Nacional fez, em 1881, com o Catálogo da Exposição da História do Brasil, que reunia o que havia na época", diz Mônica Carneiro Alves, curadora da Fundação Biblioteca Nacional. Para ela, esse catálogo seria o "bisavô" da Brasiliana, visto que, naquele tempo, ele já informava quais obras existiam, catalogadas por assuntos ou temas da história brasileira e também onde podiam ser vistas. "Esta plataforma cria a possibilidade de o público encontrar todas essas imagens num único lugar. Para o pesquisador mais experiente é mais fácil saber quem tem o quê, mas o site é uma forma de ter uma única referência nessa busca, importante principalmente para os pesquisadores menos experientes, que não têm experiência com imagem", diz Mônica.
A Pinacoteca do Estado de São Paulo tem 462 imagens expostas no site, a maioria delas provenientes da doação que a Fundação Estudar fez em 2007 para o acervo da instituição paulista. Entre essas obras, a curadora Valéria Piccoli, destaca América, óleo sobre tela do pintor austríaco Stephan Kessler (1622-1700). "Essas alegorias sobre a descoberta da América e seus habitantes são mais comuns em gravuras de livros, mas em forma de pintura não há muitos exemplares no Brasil. É uma obra rara do século XVII, que pode ser explorada em detalhes aqui", diz Valéria.
Do Instituto Moreira Salles, podem ser consultadas 522 obras e da Coleção Brasiliana Itaú, 494. Embora essas quatro instituições fundadoras do portal já reúnam um universo grande de imagens, existem muitas outras coleções e obras, espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, que poderiam ser incluídas aqui e disponibilizadas para a pesquisa ou simples apreciação dos interessados.
Para Julia Kovensky, curadora do Instituto Moreira Salles, a ideia é ter "uma Brasiliana que pertença a muita gente. De especialistas a crianças do ensino fundamental. Os estudantes têm que ter um lugar confiável para encontrar esse conteúdo, que diz respeito a história deles. Isso não pode ficar apenas guardado em reservas técnicas, tem que ser acessível ".
Com a nova plataforma, simplificada do ponto de vista da estrutura para abrigar e expor as obras, os administradores terão maior controle para se certificar de que todas as imagens relativas a uma pesquisa apareçam para o interessado. "As obras estão conectadas, integradas também com os artigos. Qualquer atualização em qualquer lugar, atualiza em tudo ao mesmo tempo", explica Pedro Herzog, que junto com Sergio Boiteux, na empresa Plano B, são os responsáveis pelo desenvolvimento do Website com a plataforma Shiro.
"O que melhorou é que por ter mudado para uma base só, em vez de duas, facilita o cadastro dos registros novos e a Shiro é uma plataforma mais prática e simples para o cadastramento. Como a gente já tem uma ficha de catalogação feita em comum acordo com as quatro primeiras instituições, essa simplificação ajuda os novos parceiros que entrarem a utilizar a mesma ficha", diz Tânia Rodrigues, gestora deste projeto pelo Instituto Itaú Cultural.
Com essas mudanças, a Brasiliana Iconográfica se abre para novos parceiros além de ter o ambiente preparado para a publicação das informações e artigos em outras línguas, tornando-se um portal de consulta internacional. E quem gosta de descobrir as obras aqui expostas vai notar nelas detalhes que nunca tinha visto, já que a nova plataforma trouxe também a possibilidade de dar um super zoom nas imagens, vê-las de tão perto que se aprecia até a textura do papel. Mergulhe, por exemplo, nos detalhes desta vista do Rio de Janeiro na gravura (abaixo) do francês Alfred Martinet (1821-1872). São vantagens que só um museu virtual pode oferecer.