Quando os colonizadores portugueses aportaram pela primeira vez no litoral da Bahia, a mata atlântica se estendia por toda a costa brasileira do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, ocupando uma área superior a 1,3 milhão km², distribuída ao longo do que são hoje 17 estados brasileiros.
Pouco mais de trezentos anos depois, os artistas viajantes que estiveram por aqui no século XIX ainda se admiravam com a mesma mata, que então já havia sido em parte devastada após a chegada dos colonizadores portugueses, pela longa exploração do pau brasil, espécie endêmica da mata atlântica, além de desmatamentos para as plantações de produtos como cana de açúcar, algodão e café.
O desenho acima, atribuído ao artista alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), data de 1828 e a mata retratada, com suas palmeiras e bromélias que chamavam atenção, é próxima ao Rio de Janeiro.
As bromélias e cipós típicos da mata atlântica também se destacam na gravura acima que integra a Flora Brasiliensis, do botânico Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868), obra que até hoje é referência na catalogação da natureza brasileira. Com o zoólogo Johann Baptist Spix (1781-1826), Martius percorreu em três anos mais de 14 mil quilômetros e coletou mais de 22 mil espécies de plantas.
Devemos também a Martius a divisão natural do território brasileiro nos cinco biomas que conhecemos até hoje: Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga, Cerrado e Pampa.
A mata atlântica é um dos biomas mais ricos do mundo em termos de biodiversidade e o segundo mais ameaçado de extinção. Cerca de 70% da população brasileira vive na mata atlântica e as águas que nela nascem e formam seus rios servem a cerca de 120 milhões de brasileiros.
A gravura acima, também parte da Flora Brasiliensis, mostra a mata protegendo um riacho na Serra da Estrela, parte da Serra dos Órgãos, na região de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Várias bacias hidrográficas formadas por grandes rios como o Paraná, o Tietê, o São Francisco, o Doce, o Paraíba do Sul, o Paranapanema e o Ribeira de Iguape se abrigam na mata atlântica. A floresta é fundamental para essas bacias que se alimentam da água armazenada no lençol freático através das plantas. Conservar e recuperar a mata ciliar, as árvores, arbustos, capins, cipós e flores que crescem nas margens dos rios, lagos e nascentes impede o agravamento de secas e enchentes. Abaixo, a floresta virgem às margens do rio Paraíba do Sul na gravura do desenhista e litógrafo francês Charles Motte (1785-1836), a partir de um desenho de Jean-Baptiste Debret (1768-1848).
Da região de São Paulo, estado que tinha 80% de seu território originalmente ocupado pela mata atlântica, podemos ver as duas gravuras abaixo, também da Flora Brasiliensis, com áreas de floresta próximas a Ubatuba e Jacareí.
Sobre a região da gravura acima, Von Martius afirmou no livro em que descreve sua viagem pelo Brasil: "Os morros baixos em Aldeia da Escada são as últimas ramificações da Serra do Mar. Uma pequena série de outeiros sem importância liga aqui as primeiras montanhas desta serra com a da Mantiqueira. A vegetação é rica e extremamente pujante: reúne as formas das selvas da serra às mais delicadas dos campos e dos brejos. Grandes plumérias, echites e outras apocináceas de rica floração, brilhantes hamélias e réxias de tronco alto, cobertas de magníficas flores roxas fazem desta região um reino de fadas" (in: MARTIUS e SPIX, Viagem pelo Brasil 1817-1821, vol. 1, Editora Itatiaia).
Entre as espécies de plantas da mata atlântica que encantaram os viajantes, muitas são endêmicas, isto é, não ocorrem em nenhum outro lugar do planeta, como as das frutas jabuticaba, goiaba, caju e pitanga, além da erva mate.
Muitas dessas plantas estão ameaçadas de extinção, pelo desmatamento, comércio ilegal ou exploração, como o pau-brasil, as araucárias, o palmito, algumas espécies de bromélias e orquídeas.
Faz 200 anos que Von Martius deixou o Brasil e, infelizmente, nesse período a mata atlântica foi reduzida a pouco mais de 7% de sua área original.