Durante o século XVII, as terras do Maranhão foram alvo do interesse de diferentes países europeus que tentaram estabelecer colônias, à revelia dos portugueses e espanhóis já estabelecidos na região. Em 1612, os franceses quiseram fundar ali a França Equinocial, sem sucesso. Os holandeses, que fincaram domínio no Recife, entre 1630 e 1654, também estiveram durante um curto período (1641-1644) no Maranhão, como mostra a gravura (abaixo) que registra uma visão panorâmica da entrada da barra de São Luís, feita por Frans Post (1612-1680), um dos pintores trazidos pelo conde Maurício de Nassau (1604-1679) para o Brasil.
Depois desse período conturbado, o Maranhão ficou bastante esquecido durante quase dois séculos. Somente entre a segunda metade do século XVIII e início do XIX, quando a cultura do algodão passou a ter relevância econômica, a província do Maranhão prosperou e a capital São Luís, batizada ainda pelos franceses, passou a ser a quarta cidade mais importante da colônia portuguesa, atrás apenas do Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Um dos fatores que contribuiu para a inserção da província na economia da coroa foi a criação, em 1755, da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que transformou São Luís em um porto lucrativo no tráfico internacional de escravizados, além de exportar algodão, arroz e couro.
A economia baseada majoritariamente no algodão enfrentou algumas crises até se enfraquecer definitivamente em 1830. Em 1819, quando os naturalistas alemães Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e Johann Baptist von Spix (1781-1826) chegaram ao Maranhão, o preço do algodão havia despencado na Europa. Os dois alcançaram São Luís, vindos do Piauí, adoentados e foram recebidos pela elite branca da capital. Sobre a população, Von Martius escreveu: "A cidade do Maranhão, com suas imediatas dependências, conta apenas 30.000 habitantes. Notam-se, entre estes, relativamente muitos descendentes, sem mistura, de portugueses, e grande número de negros; o número de índios e mestiços é pequeno" (In: Viagem pelo Brasil 1817-1821, vol.2, Editora Itatiaia; Editora da Universidade de São Paulo; 1981). Nos anos 1820, mais de 60% da população de São Luís era de homens e mulheres escravizados. Na gravura abaixo, de Martius, vemos uma única figura humana: uma mulher negra.
Composta majoritariamente por negros trazidos da África e seus descendentes, a população maranhense só se alterou significativamente após a lei de 1850, que proibia o tráfico de pessoas escravizadas. Além da redução da chegada de africanos ao Maranhão, muitos que ali viviam foram vendidos e levados para o sul do país, principalmente para as lavouras de café em São Paulo, onde a agricultura ainda prosperava com a ajuda do trabalho escravo. Por volta de 1870, as pessoas escravizadas no Maranhão eram menos de 22% da população.
Já nesta outra gravura, de Thomas Ender (1793-1875), a partir de um desenho de Johann Baptist Emanuel Pohl (1782-1834), os dois austríacos, pintor e geólogo respectivamente, vemos indígenas na canoa e na beira do rio. A imagem retrata o interior sul do Maranhão, na fronteira com o hoje estado do Tocantins, onde os povos originários ainda eram maioria. Tanto Pohl como Martius e Spix vieram ao Brasil na missão austríaca, que, diferentemente da francesa, tinha um caráter mais científico do que artístico.
Não há registros de pintores da missão francesa no Maranhão, mas o italiano Joseph Leon Righini (1820-1884) deixou belos registros de São Luís (acima). Ele teria chegado à cidade em 1856, como cenógrafo de uma companhia lírica italiana e decidido ficar, depois de se desentender com o empresário do grupo. No ano seguinte, mudou-se para Belém do Pará, onde viveu até falecer. Nascido em Turim, Leone Righini, como ficou conhecido o pintor, desenhista, fotógrafo, cenógrafo e professor, foi um dos primeiros artistas europeus a registrar as paisagens do norte do Brasil.