Até o final do século XVIII, não havia iluminação nas ruas das cidades brasileiras. Velas e lamparinas a óleo eram utilizadas com parcimônia apenas dentro das casas, principalmente das mais ricas,. As velas eram ainda caras e muitas vezes reservadas para iluminar as casas em dias de festas religiosas ou em funerais.
Em 1763, quando o Rio de Janeiro passou a ser a capital do Brasil, substituindo Salvador, a cidade ganhou seus primeiros candeeiros à base de óleo, instalados pelos próprios moradores. Até então, quem precisasse sair à noite pela rua, deveria carregar sua própria tocha. Como o homem do desenho abaixo, do inglês Charles Landseer (1799-1879), realizado entre 1825 e 1826.
Com a instalação de mais cem postes lampiões por José Luís de Castro (1744-1819), o Conde de Resende, vice-rei do Brasil entre 1790 e 1801, a cidade começou a contar com iluminação pública. Porém, o óleo de baleia, o principal combustível desse tipo de iluminação, além de produzir luz fraca, espalhava um cheiro ruim pela cidade. No livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2016), na gravura que ilustra as primeiras ocupações da manhã (abaixo), o francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) comentou: "O lampião colocado ao lado da fábrica de balas recebe nessa hora os cuidados diários de limpeza confiados a empregados subalternos, cujo cheiro infecto revela aos transeuntes tratar-se de negros a serviço do empreiteiro da iluminação da cidade. Não é menos útil evitar-se, igualmente, no correr do dia, a proximidade dos armazéns da administração, que constituem, nas horas de abertura, um foco de emanação dos miasmas perniciosos do azeite de baleia".
Cabia aos escravizados limpar pela manhã e acender no começo da noite os milhares de lampiões espalhados pela cidade. Entre 1835 e 1838, já eram cerca de 1.250 postes. Em 1847, mais de 1.850. A chegada da corte portuguesa em 1808 também contribuiu para a ampliação da rede de iluminação pública, não apenas por questões de segurança, mas também para que os espetáculos de teatro e de ópera e a vida noturna prosperassem na corte. E os escravizados eram os responsáveis pelo bom funcionamento dessas luzes.
Durante toda a primeira metade do século XIX, a iluminação ainda era fraca e abastecida principalmente por óleo de peixe, como atesta o desenho (abaixo) do pintor brasileiro José dos Reis Carvalho (1800-1893). Nas grandes festividades, a população colaborava com velas, lamparinas e luminárias colocadas nas janelas e portas das casas.
Em 1851, Dom Pedro II (1825-1891) assinou um contrato com Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), mais tarde nomeado Barão e Visconde de Mauá, para a instalação de iluminação a gás na cidade, projeto inaugurado em 1854. Pelo período de 25 anos estabelecido em contrato, a Companhia de Iluminação a Gás, criada pelo Visconde, seria responsável pela canalização do gás e pela instalação dos lampiões em ruas, praças e em locais definidos pelo governo. Em três anos, o gás já chegava a três mil lampiões nas ruas e a mais de três mil residências.
"O início da iluminação a gás na parte central da cidade atrai para fora das casas - para os cafés, as confeitarias e os restaurantes - as famílias que antes só se expunham ao olhar público nas missas dominicais e, às vezes, nos teatros. [...] Nos anos 1860 a iluminação a gás entra nas casas mais ricas e, em 1874, cerca de 10 mil casas já dispunham desse conforto", escreveu o historiador Luiz Felipe de Alencastro, no capítulo "Vida privada e ordem privada no Império", do livro História da vida privada no Brasil, vol. 2 (Companhia das Letras, São Paulo, 1997).
Apesar de o telégrafo elétrico ter chegado ao Brasil em 1852, a primeira experiência com iluminação elétrica ocorreu somente em 1857, durante um baile em homenagem a D. Pedro II, realizado no prédio da Academia Real Militar, no Rio de Janeiro. Somente em 1879, o imperador inaugurou com o empresário norte-americano Thomas Edison (1847-1931), inventor da lâmpada incandescente, a primeira instalação de iluminação elétrica permanente no país: as seis lâmpadas de arco voltaico que substituíram os bicos de iluminação a gás na Estação Central da Estrada de Ferro D. Pedro II (hoje chamada de Central do Brasil). A grande rede de abastecimento de gás que já havia na cidade retardou a ampliação da iluminação elétrica. A capital brasileira começaria a substituir um sistema pelo outro apenas no começo do século XX. No Brasil, a primeira cidade a receber luz elétrica nas ruas, em 1883, foi Campos dos Goytacazes, município do interior carioca que inaugurou a primeira central termelétrica do país.