Até o século XVIII, a instrução no Brasil era restrita aos seminários dos padres ou ao ambiente doméstico e as famílias mais ricas mandavam seus filhos estudar em Portugal, na Universidade de Coimbra. Com a chegada da corte de D. João VI (1767-1826) ao Rio de Janeiro, em 1808, surge a necessidade de uma educação mínima ou técnica para atender as demandas da nova população por administração, serviços, edificações e benfeitorias nas cidades. Em 1810, foi fundada a Academia Real Militar, uma das primeiras instituições de ensino superior do Brasil, que ensinava matemática e outras ciências, como física, química, mineralogia e história natural, formando engenheiros, cientistas e também militares. Com a Independência, em 1822, a instituição construída no Largo do São Francisco, na então capital, passou a se chamar Imperial Academia Militar, entre 1823 e 1831, depois Academia Militar da Corte, entre 1832 e 1838, Escola Militar, entre 1839 e 1855.
Na gravura (acima), publicada em 1856 no álbum O Brasil pitoresco e monumental - O Rio de Janeiro e seus Arrabaldes, o pintor, desenhista e gravador holandês Pieter Godfried Bertichen (1796-1866) retratou essa instituição, que passou por várias mudanças administrativas e pedagógicas até se tornar, principalmente depois das necessidades impostas pela Guerra do Paraguai, uma escola voltada apenas para a preparação de militares. Abaixo, um estudante da escola, em gravura de 1840, por Joaquim Lopes de Barros Cabral Teive (1816-1863), artista brasileiro que retratou diversos personagens das ruas do Rio de Janeiro.
Bertichen também se deteve em outros dois colégios particulares, que simbolizavam a educação no Brasil em meados do século XIX. Nesses colégios, um criado por padres e o outro pela corte imperial, estudavam, em sistema de internato, os filhos de grandes proprietários rurais, comerciantes, funcionários públicos graduados, profissionais liberais do Rio de Janeiro e de outras províncias do Império.
O Colégio Episcopal São Pedro de Alcântara (acima) era considerado um dos melhores devido à sua localização, no Rio Comprido, distante do ambiente tido como insalubre do centro da cidade, onde várias doenças, como a febre amarela e a cólera, proliferavam. Nessa época, o Rio Comprido era visto como um bairro nobre, onde viviam muitos estrangeiros em chácaras aprazíveis respirando ar puro. Entre as atrações do colégio, havia um “um grande tanque de natação e banho, onde os alunos aprendem a nadar", conforme anúncio publicado, em 1857, no Almanak Laemmert. Restrito a meninos, o colégio com capacidade para mais de 200 alunos, convivia com outros internatos também famosos, como o Colégio Vitorio e o Colégio Imaculada Conceição, fundado em 1854, este último só para meninas.
O colégio episcopal funcionava na antiga casa do Bispo do Rio de Janeiro, um casarão construído na primeira metade do século XVIII em estilo colonial, com projeto atribuído ao engenheiro militar Brigadeiro José Fernando Pinto Alpoim (1700-1765). A mansão, antes de se tornar colégio, havia chamado a atenção do francês Jean Baptiste Debret (1768-1848) como exemplo de uma bela construção no campo, como mostra a planta (abaixo) publicada em sua Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, em 1835. A casa, que permanece no Rio Comprido, foi adquirida e restaurada pela Fundação Roberto Marinho, em 2002.
Outro colégio, que também atendia os filhos das elites do Império e figura no álbum de gravuras de Bertichen, era o Colégio Pedro II, que sobrevive até hoje no Rio de Janeiro. Ele ocupou o prédio do antigo Colégio dos Órfãos de São Pedro, fundado em 1739, e que depois passou a se chamar Colégio São Joaquim, ainda atendendo órfãos, ao lado da igreja de mesmo nome (abaixo).
Em 1818, D. João VI extinguiu o colégio, que voltou a funcionar, administrado pelo governo imperial em 1831. Alguns anos depois, em 1837, no aniversário de 12 anos de Pedro II (1825-1891) foi rebatizado com seu nome. O Colégio Pedro II recebia também estudantes internos e cobrava dos pais não somente uma pensão para custear alimentação, médicos e o que mais precisassem, mas também um enxoval completo, o que dificultava a entrada de meninos de classes mais baixas. A maioria dos alunos era de famílias de fazendeiros ou negociantes, mas havia algumas vagas gratuitas para órfãos ou filhos de viúvas. Depois da proclamação da República, em 1889, o colégio mudou de nome novamente e passou a se chamar Instituto Nacional de Instrução Secundária, depois Ginásio Nacional, até voltar a seu nome anterior, Colégio Pedro II, em 1911. Desde a Constituição de 1988, o colégio, que oferece vagas gratuitas, e muito disputadas, para mais de 12 mil alunos, é considerado uma instituição federal.