O tenente de artilharia Henry Chamberlain (1796-1844) era o filho mais velho do cônsul-geral encarregado dos negócios da Inglaterra no Rio de Janeiro entre 1815 e 1829. Sir Henry Chamberlain (1773-1829), o pai, teve importante papel no reconhecimento da Independência do Brasil ao lado de José Bonifácio (1763-1838). O filho veio visitar o pai no Brasil entre 1819 e 1820 e gostava de pintar aquarelas. Embora não fosse um artista brilhante, era muito observador. Pintou, por exemplo, duas aquarelas que mostram de ângulos diferentes a casa de seu pai e sede do consulado no bairro do Catete. Para além da arquitetura confortável da residência, o artista revelou seu entorno, com a presença de escravizados que, de um lado, trabalham em uma pedreira, e do outro, carregam um fardo em direção à casa.
Provavelmente como distração, Chamberlain desenhou diversos bairros, paisagens e cenas dos habitantes da cidade. Sua atenção aos detalhes das roupas e lugares surpreende. Com seus recursos e contatos, ao voltar para a Inglaterra, publicou em 1821 a obra Views and Costumes of the City and Neighbourhood of Rio de Janeiro, Brazil, from drawings taken by Lieutenant Chamberlain, Royal Artillery, during the years 1819 and 1820, with descriptive explanations, com 36 litografias coloridas em edição de luxo e de poucos exemplares, bastante disputada por colecionadores. Bem mais tarde, estudiosos identificaram muitas semelhanças entre seus desenhos e os do artista português Joaquim Cândido Guillobel (1787-1859), mas essa era uma prática comum na época e vários artistas pegavam informações ou figuras de outros para compor suas obras.
O cuidado de Chamberlain com os detalhes se estendeu às descrições minuciosas e um pouco irônicas que acompanham todas as gravuras de seu álbum, como esta, acima, intitulada Huma Historia. "A maioria das casas, especialmente as dos arrabaldes da cidade, possui um só andar, com portas e janelas de gelosia, chamadas rótulas, muito apropriadas para a entrada de ar e de poeira ou para interceptar uma boa parte dos raios de luz, o que sem dúvida contribui para manter os aposentos frescos enquanto que os moradores podem observar tudo o que se passa na rua _vantagem de não pouca importância para os brasileiros. A visita de amigos do sexo masculino dentro de casa, durante a ausência do chefe, é considerada indecorosa pelas damas do Rio, motivo pelo qual elas não raro recebem visitas, por assim dizer, em plena rua, da maneira representada na gravura. Entrevistas de natureza amorosa são concedidas do mesmo modo. À aproximação de um transeunte, a rótula cai e a dama desaparece até passar o perigo de ser vista por um estranho. Dos negros aqui representados, a mulher vende milho e o homem, gamelas _vasilhas de madeiras, algumas de grande tamanho. Feitas de uma só peça de madeira, custam barato, mas, como quebram facilmente, saem caras. As outras duas figuras são uma senhora e a criada. Parece estranho que, em clima sempre quente, o pesado capote de Portugal seja usado e preferido como vestimenta externa. No entanto, é o que se dá com as damas das classes médias e baixas. Tal a força do hábito!". (Tradução de Rubens Borba de Moraes em Vistas e Costumes da Cidade e Arredores do Rio de Janeiro em 1819-1820, Rio de Janeiro, São Paulo: Livraria Kosmos, 1943).
A estadia do tenente Chamberlain não demorou muito no Brasil. Depois de voltar a Londres, foi para a Nova Zelândia, para a Colônia do Cabo, na África do Sul, e para as Ilhas Bermudas, no Caribe, sempre trabalhando como oficial de tropas coloniais britânicas. Faleceu nas Bermudas, de febre amarela, aos 48 anos.