Das quase duas mil espécies de aves existentes no Brasil, o tucano foi uma das que causaram maior espanto aos estrangeiros que aqui chegaram. Originário da América do Sul e Central, esse pássaro era bem diferente de tudo que já tinham visto na Europa.
"A primeira vez que se vê um tucano não joga muito a seu favor; seu bico de tamanho desmesurado parece incomodar pelo seu peso, ou lhe fornecer uma arma defensiva, caso seja necessário, mas não é nada disso. Essa massa que lhe dá um ar tão estranho é totalmente celulosa dentro e extremamente leve e, uma vez ferido, o bico consegue apenas pressionar a mão que tentar pegá-lo", escreveu o ornitólogo francês Jean Théodore Descourtilz (1796 - 1855), autor das ilustrações desta página.
Antes dele, ainda no século XVI, outros conterrâneos seus também deixaram registrada a admiração pelo pássaro de bico grande. O frade e explorador francês André Thevet (1516-1590) descreveu em seu livro As singularidades da França Antártica, publicado em Paris em 1558, sua admiração por essa ave. “Na costa marinha, a mercadoria mais frequente é a pluma de um pássaro que eles chamam em sua língua de tucano (...) impossível encontrar amarelo mais excelente que o deste pássaro; na ponta da cauda há pequenas plumas vermelhas como sangue. Os selvagens pegam as penas amarelas e as usam para fazer guarnições de suas espadas e seus vestidos, chapéus e outras coisas. Levei um chapéu feito dessa plumagem, muito belo e rico, o qual foi presenteado ao rei como coisa singular”, escreveu o explorador, que esteve no Brasil entre 1555 e 1556.
Um pouco mais tarde, o pastor e missionário francês Jean de Léry (1536-1613) também registrou seu assombro com o tucano. "Havendo grandes quantidades do animal, não têm os selvagens grande esforço em dá-los e trocá-los pelas mercadorias que os franceses e portugueses, que traficam nessa região, lhes trazem. Além disso, o tucano, tendo o bico mais longo e maior que todo o corpo, sem opor nem contrapor ao do grou, que não é nada em comparação, é preciso considerá-lo não só o bico dos bicos, mas também o mais prodigioso e monstruoso que se possa encontrar em todos os pássaros do universo", escreveu em seu livro História de uma viagem feita na terra do Brasil, publicado em 1578.
Descourtilz, em seu livro Ornithologie Brésilienne ou Historie des Oiseaux du Brésil, publicado em 1854, descreve detalhes do habitat e do comportamento dos tucanos de forma, às vezes, não muito lisonjeira. Ao relatar os hábitos do tucano-de-papo-amarelo, ele escreve: "Se eles são descobertos, fogem em todas as direções deixando escapar um suspiro ruidoso, ao qual se sucede, de todos os locais onde eles se refugiaram, um canto sonoro de chamado, grave, breve e desagradável, que se pode comparar ao ato de vomitar".
Na primeira gravura, no alto, vemos o tucano-de-bico-preto e o tucano-de-papo-amarelo, um pouco menor que o primeiro. Na segunda gravura, estão o tucano-toco, o maior da espécie, e dois tipos de araçari, que é menor, mas da mesma família e tem os mesmo hábitos. Existem 22 espécies dessa família no Brasil, 6 de tucanos e 16 de araçaris, espalhados por quase todo o país, exceto no litoral nordestino.
O nome tucano vem do tupi guarani e significa "que bate forte". São aves que vivem em bandos, raramente estão sozinhas, são monogâmicas e voam por longas distâncias. Os tucanos se alimentam principalmente de frutas e eventualmente comem ovos de outros pássaros, insetos e pequenos répteis. São muito importantes para a manutenção e regeneração das florestas, porque depois de comerem as frutas dispersam suas sementes pela natureza.
Por serem considerados ainda hoje aves exóticas, os tucanos são vítimas constantes de traficantes de animais silvestres e também sofrem com a destruição de seus habitats. O tucano-de-papo-branco, o tucano-de-bico-preto e o araçari-de-pescoço-vermelho, por exemplo, já têm o status de vulnerável na natureza, ou seja, correm o risco de desaparecer.
Jean Théodore Descourtilz foi pesquisador do Museu de História Natural, no Rio de Janeiro, e observou as aves nas viagens que fez pela Mata Atlântica do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Ele morreu em 1855, na cidade de Aracruz, no interior do estado capixaba, envenenado pelo arsênico que usava para empalhar as aves.