Frederico Guilherme Briggs (1813-1870) começou a frequentar a Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) aos 13 anos, em 1826. Filho de um comerciante inglês e de uma brasileira, ele estudou pintura de paisagem com Felix-Émile Taunay (1795-1891) e arquitetura com Grandjean de Montigny (1776-1850). Apesar de ter sido aluno da prestigiosa escola, fundada em 1816 por D. João VI (1767-1826) com professores trazidos da França, Briggs se tornou menos conhecido como artista e mais como um importante ator no desenvolvimento da litografia no país.

O jovem Briggs inaugurou em 1832, junto com o artista francês Edouard Philippe Rivière, sua primeira litografia, a Rivière & Briggs, um dos quatro estabelecimentos desse tipo que funcionavam no Rio de Janeiro na época, onde imprimia imagens de tipos populares, fatos marcantes e personalidades. Em 1833, ele se inscreveu no concurso da Aiba que escolheria o professor substituto de pintura de paisagem, mas acabou ficando em segundo lugar, perdendo a vaga para o alemão Augusto Müller (1815-1883). Descontente com seus professores, Briggs se afastou da academia, mas não da arte.

Panorama of the City of Rio de Janeiro, the Capital of Brazil
Panorama of the City of Rio de Janeiro, the Capital of Brazil

Em 1836, Briggs viajou para a Inglaterra e estagiou na oficina Day & Haghe, onde aperfeiçoou seus conhecimentos de litografia e publicou no ano seguinte o Panorama of The City of Rio de Janeiro, the Capital of Brazil, conjunto de quatro imagens de sua autoria (acima e abaixo), que integram este portal.

Panorama of the City of Rio de Janeiro, the Capital of Brazil
Panorama of the City of Rio de Janeiro, the Capital of Brazil

Briggs também levou e publicou na Inglaterra uma série de imagens de paisagens e personalidades de diversos artistas com que compôs a Folhinha Nacional Brazileira, mas, para a museóloga e pesquisadora Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha (1922-2009), os panoramas se sobressaem e confirmam a evolução de Briggs na arte da litografia: "Há aqui menos flexibilidade do lápis, maior frieza no tratamento do segundo plano, onde a perfeição de certos detalhes nos assegura ter sido desenhado e litografado por conhecedor da topografia e arquitetura do Rio; os monumentos são perfeitamente identificáveis, e se por vezes acontece alguma distorção de perspectiva, é intencional e tem por objetivo evidenciar algum importante monumento que pela posição do artista, situado no morro de Santo Antônio, teria desaparecido. A impressão da estampa foi feita em duas etapas: no segundo plano, o panorama propriamente dito, que nos mostra a cidade na época da regência, perspectiva tirada do alto do morro de Santo Antônio, e o primeiro plano, aquela elevação, onde se veem tipos comuns da cidade como escravos rodeando, o desenhista que se retrata com papel e lápis esboçando os quadros, frades gorduchos e bonachões a discutir com serviçais, chefes de família acompanhados de crianças e, sobretudo, figuras grotescas de pretos encasacados, com trajes de arremedo de seus patrões, em longas conversas" (In. O Acervo Iconográfico da Biblioteca Nacional / estudos de Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha; organizadores Renata Santos, Marcus Venicio Ribeiro e Maria de Lourdes Viana Lyra. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2010). Para o historiador Gilberto Ferrez, as quatro gravuras do panorama de Briggs “são das mais belas da iconografia carioca, não só pelo caráter artístico, como também pela elaboração, detalhes arquitetônicos, perspectiva e beleza dos primeiros planos” (Iconografia do Rio de Janeiro; catálogo analítico 1530-1890, Rio de Janeiro, Casa Jorge Editorial, 2000).

Nº 15 Preto vendendo agôa

Pouco depois de voltar ao Brasil, o artista retomou sua empresa e publicou, entre 1840 e 1841, com seu antigo colega da Academia de Belas Artes, Joaquim Lopes de Barros Cabral Teive (1816-1863), uma série de 50 gravuras (acima e abaixo) vendidas avulsas e depois encadernadas no álbum Costumes Brazileiros. Todas as imagens dessa série rara, que mostra personagens facilmente encontrados nas ruas, estão também disponíveis para serem apreciadas aqui na Brasiliana Iconográfica.

Nº 21 Preta de ballas

Com atividade sempre crescente, Briggs inaugurou em 1843 uma nova sociedade, desta vez com o prussiano Peter Ludwig (1814-1876), a Litografia Ludwig & Briggs que imprimia "desenhos, mapas, diplomas, faturas, circulares, cartões, bilhetes de loteria, letras de câmbio e todo tipo de estampas", como afirma a historiadora Maria Inez Turazzi, no artigo A representação de tipos e cenas do Brasil imperial pela Litografia Briggs (In. caiana. Revista de Historia del Arte y Cultura Visual del Centro Argentino de Investigadores de Arte - CAIA, n. 3, 2013).

Selling Fruits

Entre março de 1846 e abril de 1849, Ludwig e Briggs publicaram seu trabalho mais importante, o álbum The Brazilian Souvenir: a selection of the most peculiar costumes of the Brazils, com 30 gravuras que novamente retratavam cenas de rua, feitas a partir de aquarelas do artista alemão Eduard Hildebrandt (1818-1869), também disponíveis neste portal (acima e abaixo). Briggs morreu em 1870 e sua empresa permaneceu em atividade até 1877.

Playing the Marimba